IVFRJ On Line - 55ª Edição
Ano III - 17 de dezembro de 2007
Professor João Batista Calixto comemora na UFSC
Três décadas dedicadas ao ensino, pesquisa, extensão e inovação

Por Lucia Beatriz

O Super-Calixto

Comemorar três décadas dedicadas ao ensino, pesquisa, extensão e inovação, em uma única universidade, e com uma trajetória rica em resultados não é para qualquer profissional. Dr. João Batista Calixto ou simplesmente Professor Calixto – como é carinhosamente chamado por seus alunos – é um exemplo a ser seguido, um cientista completo. Com uma produção científica invejável, trouxe importantes contribuições tanto para a Farmacologia brasileira quanto mundial. Formou prósperos pesquisadores e já desenvolveu inúmeros projetos em parceria com a indústria farmacêutica. Durante suas férias, há cinco anos, empenha-se em descobrir talentos, na rede pública, para lapidar em seu laboratório.

“Calixto tem uma atuação absolutamente original, única e pouco comum. Forma recursos humanos desde a Graduação até a Pós-Graduação. Interage com a indústria e mais recentemente investe na área da extensão, isso é admirável” - elogiou Jorge Guimarães, presidente da CAPES, que fazendo referência à inesgotável produção de papers do pesquisador, alertou-brincando que “em Brasília todos sabem quando Calixto entra de férias, pois o número de publicações cai sensivelmente”. Em julho desse ano, João Batista Calixto recebeu da CAPES uma das premiações que considera mais relevante em sua carreira - o Prêmio Scopus Brasil, como reconhecimento de sua significativa produção científica, em função do número de citações internacionais e das teses orientadas.

Foto: Arquivo Pessoal - J.B. Calixto
Prof. Calixto recebe Prêmio Inovação da FINEP


Em 2006, foi agraciado com o Prêmio Inovação da FINEP, da Região Sul. Autor de diversas patentes no Brasil e no exterior, Professor Calixto, em conjunto com sua equipe de trabalho, participou do desenvolvimento do primeiro antiinflamatório fitoterápico nacional, o Acheflan®, lançado no mercado, em 2005, pela Aché. Recentemente, em parceria com a Natura, produziu o Natura Chronus Flavonóides de Passiflora®, um “cosmecêutico” inovador para desacelerar o envelhecimento da pele. Duas premiações subseqüentes, uma na área da indústria e outra na academia, demonstra que é possível fazer, ao mesmo tempo, ciência básica e aplicada, rompendo com o que o próprio Calixto chama de “falso dilema” do pesquisador.

Prêmio Scopus Brasil na interseção entre o desenvolvimento de produtos
e as publicações


XXX CALESBE – Um evento comemorativo

O evento, criado em 1992, foi batizado especialmente com este nome para homenagear o catedrático.

O Professor Calixto aproveitou a trigésima edição do Calesbe – o Seminário de integração do seu grupo de pesquisa – para fazer uma retrospectiva de sua carreira e promover o encontro “científico” entre atuais e ex-alunos. O evento, criado em 1992, foi batizado especialmente com este nome para homenagear o catedrático. Segundo os estudantes, Calesbe vem de FESBE, a Federação da Sociedade de Biologia Experimental (www.fesbe.org.br/) que realiza um importante congresso, de nível internacional, englobando várias áreas das Ciências Biológicas. Ao juntar o “esbe” da FESBE, com o “Cal” de Calixto, os alunos chegaram ao termo Calesbe, uma forma criativa de dar uma atmosfera “célebre” e, ao mesmo tempo, “familiar” ao evento, de dimensões modestas, que é reeditado, com sucesso, a cada semestre, na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Este ano, o encontro foi realizado nos dias 30 de novembro e 1 de dezembro.

Fotos: Lucia Beatriz Torres
Palestra Jorge Guimarães(CAPES)
Mesa-redonda Universidade-Empresa
Conferência Prof. Dr. Adair Rocha

“Integrando o conhecimento para produzir a Ciência” foi a temática escolhida para permear a edição comemorativa do XXX Calesbe, que pela primeira vez foi aberto ao público externo. Jorge Guimarães, representando a CAPES, inaugurou o ciclo de palestras do evento, apresentando os desafios e perspectivas para a Pós-Graduação no Brasil. Uma mesa redonda, com representantes da academia e da indústria farmacêutica, foi programada propositalmente, por Calixto, para provocar o debate, produtivo, sobre o processo de interação universidade-empresa. Sete “ex-pupilos” e atuais pesquisadores de renome na área científica tiveram o privilégio de apresentar mini-conferências e reviver o momento “tenso” de responder a sabatina feita pelo rigoroso Mestre.

Foto: Lucia Beatriz Torres
Prof. Dr. Juliano Ferreira revive a sabatina do rigoroso Mestre


Show-man” por natureza, Professor Calixto fez a platéia se emocionar com a sua palestra “retrospectiva”, especialmente preparada para a data, com direito até a animação em Power Point - onde o anfitrião chegava à Florianópolis surfando em sua prancha e transformava-se no “Super-Calixto”, ao conquistar o posto de Professor Titular da UFSC. Quem esteve presente teve a oportunidade de conhecer um pouco da história dos bastidores da ciência, aquela que não está escrita nos papers. Ao fazer um balanço de sua trajetória como cientista, Calixto deu uma enorme contribuição para o resgate da memória do Departamento de Farmacologia da UFSC, fornecendo registros importantes para preservar o patrimônio acadêmico da ciência brasileira.

Foto: Lucia Beatriz Torres
Calixto fez uma retrospectiva de sua carreira cientifica


“Highlights” de uma carreira científica de sucesso


Quando tudo começou...

João Batista Calixto nasceu no ano de 1949, em Coromandel, Minas Gerais. Ainda menino ia todo dia a cavalo para a escola, na cidade vizinha, Patrocínio. Quando jovem, completou os seus estudos em Belo Horizonte, onde fez o curso científico. Na capital, a sua primeira lembrança é ter se assustado com um prédio de 20 andares, incomum na vida interiorana. Queria ser médico, mas passou no vestibular para Ciências Biológicas, na Universidade de Brasília (UNB). Colou grau em 1973 e, no ano seguinte, já estava fazendo mestrado em Farmacologia na Universidade de São Paulo (UNIFESP). Em 1976, Calixto foi conhecer o mar e tornou-se Professor Associado da Federal Catarinense (UFSC). De 1982 a 1984, fez doutorado na Universidade de São Paulo, no Campus Ribeirão Preto (USP-RP) e, finalmente em 1994, consagrou-se Professor Titular da UFSC. De lá para cá, Professor Calixto já soma mais de 30 anos de dedicação a uma única universidade.



Duas pessoas que mudaram a sua vida

Um veio do meio urbano, da academia; o outro da zona rural, da fazenda. Ambos de igual relevância para a sua carreira científica. Professor Caspar Erick Stemmer incentivou, e também contribuiu, para que Calixto tivesse, em 1979, o seu primeiro projeto na área de Plantas Medicinais aprovado pela Central de Medicamentos (CEME). Já o Sr. Manoel Crispim da Fonseca apresentou “quatro batatas” do gênero Mandevilla velutina e falou para o Dr. Calixto pesquisar, que traria resultados interessantes. Em seu laboratório, o pesquisador fez uma descoberta fantástica para a época – uma droga antagonista (não-peptídica) da bradicinina (que é um peptídeo) – responsável pelos seus primeiros passos na interação com a indústria farmacêutica.

Fotos: Arquivo Pessoal - J.B. Calixto
Prof. Stemmer e Sr. Manoel Crispim

Fotos: Arquivo Pessoal - J.B. Calixto
“Mandevilla velutina"
Parte aérea da planta



O relicário de 30 anos de profissão...

Professor Calixto guardou, com carinho, todos os documentos que ajudaram a construir sua história como cientista. As letras datilografadas e os papéis amarelados são provas concretas que ele exibe, com orgulho, principalmente os “primeiros”: bolsas de pesquisa, cartas de recomendação, participação em congressos, contratos, publicações internacionais, patentes, entre outros. Acha engraçado um certificado que recebeu da Escola Paulista de Medicina, de um curso de farmacologia, com 480 horas que, por ser de nivelamento, não contou créditos para a sua Pós-Graduação.



“Ossos do Ofício”

Profissional extremamente capacitado, Dr. João Batista Calixto já foi consultor “ad-hoc” do CNPq, CAPES, Ministério da Saúde e Anvisa. Só em 1990 começou a ser chamado para revisar periódicos e hoje já acumula centenas de revisões. “Isto dá um trabalho danado e não entra em nenhum ranking da CAPES” – desabafou. Já foi presidente da Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental – SBFTE e participou da organização de inúmeros congressos. Professor Calixto dá um destaque especial para o I Workshop de Fármacos & Medicamentos, realizado em São Paulo, em 2004, onde foi produzido um dossiê apontando oportunidades para a inovação na indústria farmacêutica, bem como subsídios para a formulação de políticas públicas na área de fármacos e medicamentos.



Contribuições para o patrimônio científico

Atualmente o Brasil é considerado o 15º. no ranking dos países produtores de conhecimento no mundo. Especula-se que o Professor Calixto e seus discípulos possam ter uma parcela de responsabilidade por esses números. Em 1991, colaborou para que fosse criado o Programa de Pós- Graduação em Farmacologia da UFSC e se tornou o seu primeiro diretor. No transcorrer do tempo, 150 teses já foram publicadas. Hoje, Calixto congrega, em seu laboratório, cerca de 40 pesquisadores, entre técnicos, alunos de pré-iniciação e iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado. Pelas suas contas, 142 estudantes já passaram por seu grupo de pesquisa, entretanto, nenhum teve a oportunidade de se fixar no seu departamento. Fato que se configura, no momento, como uma de suas preocupações: “Muitos estão contratados, mas em outras universidades, outros setores, não aqui no nosso departamento. Conclusão, no dia em que me aposentar, o meu laboratório vai ficar sem dono, teoricamente”, lamentou.

Foto: Lucia Beatriz Torres
A atual “familia” acadêmica do Prof. Calixto


O segredo da interação Universidade-Empresa

Com vasta experiência em Farmacologia, com ênfase na pesquisa da dor, inflamação e em princípios ativos de plantas, o Professor Calixto é uma referência na interação universidade-empresa. Ao todo, já desenvolveu 40 projetos em parceria com as indústrias farmacêuticas nacionais e internacionais. Confessa que, no início, cometeu algumas gafes divulgando, em Congressos, pesquisas que desenvolvia com a indústria, mas desenvolveu um método para conciliar o sigilo com as publicações. Metade do seu laboratório trabalha com pesquisa fundamental, formando recursos humanos e publicando resultados e a outra, geralmente composta por pós-docs e técnicos, interage com a indústria, de forma confidencial. “As dificuldades são muitas, o tempo da indústria é diferente do da academia, mas o pesquisador precisa ter responsabilidade para transformar o que descobriu na bancada em benefício para a sociedade. Só através da interação com a indústria isso será possível”, revelou.

Foto: Lucia Beatriz Torres
A difícil arte de publicar papers e desenvolver parcerias com a indústria



“Curso de Férias” – a arte de descobrir novos talentos em farmacologia

Em sua carreira, Professor Calixto nunca se acomodou. Há cinco anos percebeu que fazer ciência básica e desenvolver medicamentos, em parceira com a indústria, era pouco. Resolveu abandonar o conforto de suas férias para dedicar-se à extensão. O “curso de férias” sobre os medicamentos é destinado a professores e alunos da rede pública, que têm a possibilidade de vivenciar, na prática, as atividades do laboratório, aprendendo, de forma lúdica, os princípios básicos da Farmacologia. “Mais do que popularização da Ciência e Tecnologia, esse projeto é de inclusão social, uma forma de desenvolver talentos, novas aptidões”, ressaltou. Docentes e discentes que se destacam no curso recebem bolsa para estagiar em seu laboratório. É possível, que desse projeto inovador, apareçam futuros “Calixtos”, até então ocultos na comunidade, interessados em seguir o legado científico do seu ilustre mentor.

"Curso de Férias”- a doce descoberta de um talento científico



EXTRA

=> Algumas “Pérolas” de Calixto

Minha mulher fala que, quando eu morrer, vou ter que ser enterrado em dois caixões. Um para o meu corpo e um outro para colocar os trabalhos”.

Tive que fazer um esforço extraordinário de memória para fazer esta palestra retrospectiva, foi bom para confirmar que não estou com Alzheimer ainda”.

Foto: Lucia Beatriz Torres
Casal Calixto - sucesso no amor e na carreira científica

=> Estratégia de Sobrevivência

Quando a coisa aperta eu corro para a fazenda, o lugar em que eu nasci, para recarregar as baterias”.

 

=> Cupido-Calixto

Tem gente que entra aqui, no meu laboratório, só para arrumar namorado. Até tentam esconder de mim, mas, no final, eu acabo descobrindo tudo. Já fui padrinho de alguns casamentos”.

Foto: Lucia Beatriz Torres
Calixto apresenta o mais novo casal do seu Grupo de Pesquisa


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