Jardins
Orgânicos fornece medicamentos à rede municipal
de saúde
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Além
do cunho social, o programa ajuda a capacitação de
profissionais, resgate da medicina alternativa e a
recuperação de áreas abandonadas na região
Esse é nome do projeto que há 7 meses é realizado
no bairro com o objetivo de suprir a falta de medicamentos
no posto de saúde Ernani Agrícola além de difundir
e resgatar o uso da medicina alternativa. Segundo
Uendel Barreiros, de 31 anos, farmacêutico responsável
pelo projeto, o JOST teve início a partir do Programa
de Medicina Alternativa da Secretaria Municipal de
Saúde, que há 15 anos deu início ao Programa de Fitoterapia.
"A proposta adotada pelo Programa de Fitoterapia
teve como base o programa Farmácia Viva, realizado
no Ceará. Inicialmente havia apenas uma oficina farmacêutica,
na Ilha do Governador. Com resultados satisfatórios,
outras oficinas foram surgindo e atualmente existem
7 oficinas de medicina alternativa funcionando em
outros locais do município, todas com farmacêuticos
e oficiais de farmácia concursados", afirma Uendel.
Depois de 10 anos, segundo o farmacêutico e bioquímico
formado pela UFRJ, foi preparada uma ementa com o
objetivo de descentralizar as oficinas da secretaria,
tentando torná-las auto-suficientes. No caso da oficina
de Santa Teresa, antes de começarem a conquistar a
autonomia, já havia surgido a idéia de criação do
JOST, a partir dos grupos de fitoterapia, formados
por profissionais e moradores da comunidade, que discutem
o uso da medicina alternativa no bairro. "O JOST
surgiu da idéia de um participante, que sugeriu que
fossem utilizadas as plantas da casa dele. No entanto,
como iríamos saber que as plantas da casa eram realmente
as plantas necessárias? Fazer estudos e reconhecimentos
das plantas teria um custo muito alto para o projeto,
já que precisamos de plantas certificadas para poder
preparar os medicamentos", diz. No entanto, quando
a idéia começou a se espalhar, o Grupo Cama e Café,
que fornece moradia a turistas que visitam Santa Teresa,
procurou os grupos de discussão para viabilizar formas
de realização do projeto. "Eles forneceram os jardins
de suas casas para que pudéssemos plantar as mudas
certificadas que vinham da Fazenda Modelo da Prefeitura,
em Sepetiba. Assim, em meados de 2004, apresentamos
um projeto mostrando quantas residências iriam participar,
quantos jardineiros seriam necessários para cada residência,
qual seria o custo para cada casa, e o que da produção
total seria destinado ao posto de saúde."
Treinamento e capacitação
O projeto teve início em setembro de 2004, com o treinamento
e capacitação dos jardineiros na Fazenda Modelo. Em
novembro, as mudas certificadas, que foram preparadas
durante os treinamentos, começaram a ser levadas às
casas do bairro."Já são quase sete meses de JOST
e estamos tendo um retorno bastante satisfatório",
afirma o responsável pela unidade Ernani Agrícola.
No posto de saúde, funciona o laboratório onde são
preparadas várias formulações a partir de tinturas.
A matéria prima vegetal chega na oficina e é processada
até produzir a tintura, cujo princípio ativo é extraído
com um solvente de solução alcoólica (60% álcool em
água), seguindo os padrões ideais. A partir dessas
tinturas são preparados os medicamentos que podem
ser de uso tópico (cremes, pomadas e géis) e de uso
interno. Além disso, são preparados também óvulos
vaginais, feitos de Calêndula.
O elenco das plantas utilizadas na unidade Ernani
Agrícola, foi preconizado conforme a demanda. "Trabalhamos
com Maracujá, Erva Cidreira, Erva Baleeria, de poder
calmante, Boldo, Melão de São Caetano, Arruda, que
somados tornam-se soluções contra piolhos, e Curcuma
(anti-hipercolesterolemia). Estamos tentando aclimatar
também a Arnica Brasileira, que possui propriedade
anti-inflamatória", diz Uendel.
Uma das grandes conquistas do JOST é a criação do
xarope anti-expectorante, que não existia na rede
municipal de saúde. "Estamos muito orgulhos também
de termos preparado uma pomada de Calêndula para assadura
de crianças. Foi um sucesso. Conseguimos atender à
demanda, que na época era muito grande. Conseguimos
criar uma solução para o problema".
Ele explica que antes de utilizar qualquer um dos
medicamentos fitoterápicos, o paciente passa pela
consulta médica e precisa de receita para que o remédio
seja liberado. "Dos 24 médicos da unidades, 20
sempre prescrevem nossos medicamentos", afirma.
Papel social
Segundo Uendel, o sucesso do JOST deve-se também ao
fato de além de ter um cunho social com o posto de
saúde, fornecendo medicamentos gratuitamente aos moradores,
ele capacita e forma jardineiros da comunidade. Além
disso, áreas que eram utilizadas como depósitos de
entulho e canteiros de obra, viraram hortas que têm
uma produção bastante rica e que podem se tornar modelos
de horta urbana, como a do Condomínio Eqüitativa,
na rua Almirante Alexandrino, por exemplo. "Durante
o projeto, ocorreram coisas que não imaginávamos.
A transformação que podemos proporcionar pode ser
feita em diversas esferas".
De acordo com o farmacêutico, o objetivo agora é tentar
desonerar as residências, que atualmente gastam cerca
de 200 reais para pagar o jardineiro e fazer com que
o JOST se torne cada vez mais auto-suficiente. "O
projeto está caminhando bem, fizemos uma fotografia
das regiões e estamos fazendo um relatório tentando
adequar tudo e ver as dificuldades que temos. Nosso
posto já é auto-suficiente em muitas coisas",
diz.
A Fazenda modelo da Prefeitura foi desfeita em abril
e atualmente a Secretaria Municipal de Saúde já quase
não participa do processo; o que para o farmacêutico
tem lados positivos e negativos: "com a descentralização,
você aproxima a oficina da administração do posto.
No entanto, as informações ficam estanques, o que
dificulta a padronização de todas as unidades. Cada
unidade ser auto-suficiente é muito bom, mas um programa
que não é uniforme, não é um programa", justifica
Uendel.
Com cerca de 400 moradores beneficiados, a idéia dos
Jardins Orgânicos de Santa Teresa não é somente aumentar
o número de pacientes que utilizam a medicina alternativa,
mas sim difundir e resgatar o uso de plantas medicinais,
que segundo Uendel perdeu força a partir do momento
em que as indústrias farmacêuticas tomaram conta do
mercado. "É preciso deixar claro que o uso de plantas
medicinais é discutido com a população e que o pilar
do nosso projeto é o auto-cuidado e a medicina preventiva",
finaliza.
As
reuniões de discussão sobre o uso da medicina
alternativa são realizadas todas as quartas-feiras,
das 10h ao meio-dia, no próprio posto de saúde
Ernani Agrícola, na Rua Constantino Jardim,
nº 6.
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