Novos
alvos para quimioterápicos no combate a Doença
de Chagas
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Pesquisadora
Lucia Mendonça Previato e equipe buscam entender
a bioquímica do Trypanossoma cruzi e ajudar
no desenvolvimento de novas drogas contra a doença
Escolhida como uma das cinco vencedoras do Prêmio
L´Oreal-Unesco para Mulheres na Ciência de 2004, a
bióloga Lucia Mendonça Previato lidera uma equipe
do Laboratório
de Glicobiologia, do Instituto de Biofísica Carlos
Chagas Filhos (IBCC), da UFRJ, na pesquisa que
busca novos alvos para quimioterápicos para combater
a Doença de Chagas. Os resultados desse trabalho podem
levar ao desenvolvimento de novas drogas para o tratamento
e prevenção desse mal, que atinge entre 16 e 18 milhões
de pessoas apenas na América Latina..
Foto: Alaor Filho/AE |
"A
Glicobiologia é o estudo dos açúcares que têm
papel fundamental na comunicação celular. Daí,
pesquisamos as estruturas da superfície do parasita
Trypanossoma cruzi e a relação com as células
hospedeiras humanas", explica a professora
Lucia. |
O grupo já conseguiu isolar, purificar e analisar
a estrutura e função de várias moléculas da superfície
deste protozoário e sua interação com as células de
mamíferos.
Entender essa interação é o mais importante para que
se possa saber como impedir que a doença se desenvolva.
O trabalho da professora Lucia permitiu descobrir
que o T. cruzi usa uma de suas proteínas para
retira um açúcar das células hospedeiras e transferi-lo
para uma glicoproteína de sua superfície. "A elucidação
desse processo pode levar ao desenvolvimento de novas
drogas quimioterápicas, capazes de inibir esse mecanismo
de ação e ser menos tóxicas para o paciente",
esclarece a pesquisadora.
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Prof.
Lucia M. Previato e Equipe
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Os avanços conseguidos pela equipe da bióloga são
animadores. Entre eles está a descrição de uma nova
enzima crítica para a sobrevivência do T. cruzi.
Com isso, abrem-se novas frentes para o desenvolvimento
de quimioterápicos contra infecções por parasitas.
O trabalho também está possibilitando um melhor entendimento
da interação parasita-hospedeiro. Como conseqüência,
várias moléculas de parasitas estão sendo testadas
como alvos de quimioterapia e possíveis vacinas para
combater infecções com protozoários.
Um mal ainda sem cura
Descoberta em 1909 pelo médico sanitarista brasileiro
Carlos Chagas, a doença infecciosa e parasitária que
leva seu nome ainda não tem cura quando em sua fase
crônica. Ela é causada pelo protozoário Trypanossoma
cruzi, que é transmitido às pessoas pelo inseto
Triatoma infestans, popularmente conhecido
como barbeiro, chupão ou fincão.
A transmissão se dá quando o inseto pica alguém já
infectado e depois outro indivíduo sadio. Isso ocorre
geralmente à noite, quando o barbeiro sai de seus
esconderijos, principalmente frestas e buracos em
casas da zona rural, em busca de seu alimento preferido,
o sangue humano.
Quando o protozoário já está no organismo, a partir
daí a doença tem, principalmente, duas fases. Logo
depois da picada, ocorre a fase aguda, que em alguns
casos pode causar reação no local e febre alta. Nesse
caso, ainda há tratamento à base de um medicamento
chamado benznidazol. Se não for tratada, no entanto,
a doença progride e passa à fase crônica, que não
apresenta sintomas, mas pode levar à morte. O T.
cruzi instala-se nos músculos, principalmente
no coração, e destrói suas fibras, causando insuficiência
e arritmia cardíacas. Em cerca de 10% dos infectados,
o mal também pode afetar o sistema digestivo.
Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo
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