Um novo fármaco para tratar a hipertermia
maligna |
Como ajudar a combater uma doença que na maioria
das vezes não manifesta sintomas e pode aparecer
de repente? Assim é a hipertermia maligna (HM),
uma doença de natureza farmacogenética que acomete
o músculo esquelético. A busca de um novo medicamento
para o tratamento da hipertemia é o trabalho ao
qual se dedica o professor Roberto
Takashi Sudo e sua equipe do Laboratório
de Farmacologia do Acoplamento e Excitação-contração
Muscular, no
Departamento de Farmacologia
Básica e Clínica do Instituto de Ciências
Biomédicas da UFRJ.
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Prof. Roberto Takashi
Laboratório de Farmacologia do Acoplamento
e Excitação-contração Muscular - DFBC - ICB/UFRJ.
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Roberto Takashi possui graduação em Medicina pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (1976), especialização
em Farmacologia (1976), Fellow da Divisão de Pesquisa
Cardiovascular da Cleveland Clinic Foundation (1983),
mestrado em Ciências Biológicas (Farmacologia e Terap.
Experimental) pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (1981) e doutorado em Ciências Biológicas
(Biofísica) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(1988).
Com Pós-Doutorado na Divisão de Farmacologia Clínica
da Thomas Jefferson University, USA (1989-1990), ele
também concluiu o Pós-Doutorado no Laboratório de
Hipertermia Maligna da Wake Forest University nos
períodos de dezembro de 1995 a dezembro de 1996 e
janeiro a dezembro de 2000.
Em entrevista ao
IVFRJ On Line, o
professor Takashi fala de sua pesquisa e como um
novo fármaco pode ajudar as pessoas portadoras de
HM.
Do que trata o seu trabalho?
Um dos trabalhos do Laboratório de Farmacologia
do Acoplamento e Excitação-contração Muscular localizado
no Departamento de Farmacologia Básica e Clínica
do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ sob
minha responsabilidade visa desenvolver um novo
fármaco/medicamento para o tratamento da hipertermia
maligna (HM). A HM é uma doença de natureza farmacogenética
que acomete o músculo esquelético. Pacientes portadores
desta doença são assintomáticos na maioria das vezes.
A crise de HM é desencadeada de maneira súbita durante
a anestesia geral, no momento em que os indivíduos
suscetíveis entram em contato com agentes anestésicos
gerais inalatórios usados em mais de 60% das anestesias.
A crise de HM é dramática levando ao óbito em mais
de 70% dos casos. A descrição da HM é relativamente
nova e ainda de pouca divulgação entre os médicos.
Como age essa doença?
O mecanismo da hipertermia maligna está vinculado
a mutação no receptor da rianodina tipo 1 (RyR1)
presente na membrana do retículo sarcoplasmático
de músculo esquelético. O RyR1 é a principal proteína
responsável pela liberação de cálcio necessário
para a contração muscular. A mutação provoca alteração
funcional do RyR1 tornando-o muito mais permeável
ao cálcio na presença de determinadas substâncias
como os anestésicos gerais inalatórios (halotano,
enflurano, sevoflurano, desflurano) e o relaxante
muscular, succinilcolina, também usada na anestesia.
O aumento incontrolável do cálcio na célula ativa
o estado de hipermetabolismo (hipertermia, aumento
do consumo de oxigênio, rigidez muscular, etc),
lise da membrana celular e extravasamento de elementos
intracelulares para o sangue. A morte é inevitável
na maioria dos casos não diagnosticados precocemente
ou quando o tratamento adequado não é rapidamente
iniciado. Há no momento apenas uma substância clinicamente
disponível para o tratamento da HM. Esta substância
denominada de dantrolene sódico reduz a mortalidade
para 10% dos casos, porém, é de alto custo (cerca
de 3.500 Reais o kit) e de difícil uso clínico em
função da baixa solubilidade. O projeto desenvolvido
na UFRJ, em colaboração com a indústria química
e farmacêutica (Cristália Produtos Químicos e Farmacêuticos
Ltda) tem como objetivo sintetizar em quantidade
industrial, investigar a eficácia farmacológica
e avaliar a toxicologia pré-clínica de um novo fármaco
para o tratamento da HM, com solubilidade 30 vezes
superior ao protótipo dantrolene sódico, denominado
de azumolene.
Desde quando este trabalho se desenvolve e em
que etapa ele se encontra?
Em colaboração com a indústria, este trabalho começou
em dezembro de 2004. O azumolene sintetizado pelo
Laboratório Cristália foi encaminhado em fevereiro
de 2005 e os primeiros testes realizados em março
de 2005. A potência do azumolene foi comparada ao
dantrolene em preparações in vitro de músculo esqueléticos
de roedores e em preparações in vivo em roedores
não portadores de HM. Nestes testes ficaram constatados
que a potência do azumolene é igual ao do dantrolene.
A eficácia do azumolene em reverter a crise de HM
foi comprovada em porcos portadores de HM em estudo
realizado em colaboração com o Departamento de Zootecnia
da Universidade Federal de Viçosa e em músculos
esqueléticos de pacientes portadores de HM. O projeto
encontra-se em fase terminal tendo-se concluído
o estudo de toxicidade aguda e 80% da toxicidade
subaguda concluída. Temos a expectativa de encerrar
o estudo pré-clínico até julho de 2007 para que
o estudo Clínico Fase I seja iniciado.
Quais os principais resultados esperados?
Primeiro, que a indústria química e farmacêutica
desenvolva metodologia de síntese do azumolene em
quantidade industrial; segundo, que o azumolene
seja eficaz em reverter o quadro agudo animais que
expressam a crise de HM; terceiro, que o azumolene
seja uma substância segura tanto para administração
aguda quanto para a administração prolongada e de
fácil manuseio clínico.
Que impactos tais resultados terão para a sociedade?
a) O Brasil será o primeiro país a disponibilizar
clinicamente o azumolene, substância esta esperada
em vários países, principalmente os da Europa;
b) o tratamento da crise de HM poderá ser realizado
de maneira mais rápido e seguro em função da solubilidade
aumentada do azumolene em comparação ao dantrolene;
c) possibilitar que todos os hospitais que usam
anestésicos gerais inalatórios tenham condições
de adquirir o medicamento que reduz a mortalidade
da HM.
A pesquisa é apoiada por algum financiamento?
De quanto e de onde?
Sim. O projeto é apoiado pelo Ministério da Ciência
Tecnologia/FINEP/Ação Transversal (Proc. Ref. 01.04.0913.00)
em parceria com o Laboratório Cristália Produtos
e Farmacêuticos Ltda especificamente para desenvolver
o azumolene. O recurso de R$ 512.000,00 sendo 50%
para cada parte (MCT/FINEP e Cristália) é gerenciado
pela FUJB/UFRJ.
Além do seu laboratório, existem outras instituições
envolvidas no trabalho? Poderia citar alguns pesquisadores
colaboradores?
O projeto envolve o nosso Laboratório localizado no
Departamento de Farmacologia
Básica e Clínica do ICB e os pesquisadores
do
Laboratório Cristália.
Há envolvimento de Laboratório privado, não contemplado
pelo recurso, para a complementação de alguns testes
de toxicologia.