Mosquitos em combate ao mosquito da dengue |
Pelo
menos três grupos de pesquisa no Brasil têm capacidade
de produzir um mosquito transgênico que poderia controlar
a incidência do Aedes aegypti
O seqüenciamento do genoma do mosquito da dengue,
por um grupo de pesquisa que envolve brasileiros
e franceses, pode ser uma saída para o tratamento
e para a prevenção da doença nas áreas afetadas.
Os resultados da pesquisa podem ajudar na formulação
de novos tipos de inseticida, menos danosos ao meio
ambiente, e de outros meios de combate ao vetor,
como o desenvolvimento de mosquitos transgênicos.
Opondo-se aos atuais inseticidas de largo espectro,
que afetam não só os mosquitos da dengue, o Aedes
aegypti, como outras espécies da fauna de insetos,
os mosquitos transgênicos seriam uma solução viável
a médio e longo prazo, caso se mostre efetiva, podem
ser uma forma de controle de casos da doença, como
explica o Doutor
Pedro Lagerblad, especialista em
Artrópodos Hematófagos e professor da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ): "o conhecimento
dos genes que o vírus utiliza para infectar o mosquito,
assim como os genes utilizados pelo mosquito para
se defender do vírus, pode ajudar neste tipo de
pesquisa. Estes mosquitos poderiam representar uma
forma de controle de menor impacto ambiental e menor
custo."
O professor esclarece ainda que essa possibilidade
menos imediata pode ser uma solução para resolver
a questão da resistência do mosquito aos inseticidas
do mercado. Segundo Pedro Lagerblad, o uso indiscriminado
dos inseticidas acabou por selecionar os animais
que apresentam uma freqüência de genes resistentes
ao remédio. No entanto, com o seqüenciamento do
genoma do animal, o combate será facilitado, aproveitando-se
"pontos fracos" encontrados na pesquisa. Um deles
seria o olfato, principal sentido de orientação
do Aedes aegypti, que pode servir de base
para o desenvolvimento de um inseticida que desoriente
o mosquito e afete apenas a espécie transmissora
da dengue.
Com aproximadamente 1% de todas as publicações científicas
anuais do mundo, 7% das relativas ao Aedes aegypti
e à dengue, o que representa cerca de 60 artigos
por ano, o Brasil tem tecnologia para desenvolver
esses mosquitos transgênicos. "O Brasil tem pelo
menos três grupos de pesquisa capacitados para isso",
afirma o Professor Pedro.
De forma simplificada, o que esses grupos fariam,
seria inserir um gene artificial nos ovos de mosquito,
em uma etapa precoce do desenvolvimento do animal.
Esse gene estaria associado a uma seqüência de DNA
que promoveria a inserção destas informações no
genoma embrionário.
O professor diz que, apesar disso, a etapa mais
difícil não seria desenvolver os mosquitos em laboratórios,
e sim inseri-los na natureza: "a tecnologia para
produção de transgênicos e alguns genes possíveis
de conferirem refratariedade já existem. A etapa
que parece ser a mais complicada, hoje, é a fixação
dos mosquitos na natureza, onde a incerteza é grande",
por causa da competição com as demais espécies.
No entanto, esses "novos" mosquitos podem preencher
as lacunas deixadas pelos inseticidas de largo espectro.