IVFRJ On Line - 47ª Edição
Ano III - 18 de junho de 2007
Mosquitos em combate ao mosquito da dengue
Pelo menos três grupos de pesquisa no Brasil têm capacidade de produzir um mosquito transgênico que poderia controlar a incidência do Aedes aegypti

Por Matheus Fierro

O seqüenciamento do genoma do mosquito da dengue, por um grupo de pesquisa que envolve brasileiros e franceses, pode ser uma saída para o tratamento e para a prevenção da doença nas áreas afetadas. Os resultados da pesquisa podem ajudar na formulação de novos tipos de inseticida, menos danosos ao meio ambiente, e de outros meios de combate ao vetor, como o desenvolvimento de mosquitos transgênicos.

Opondo-se aos atuais inseticidas de largo espectro, que afetam não só os mosquitos da dengue, o Aedes aegypti, como outras espécies da fauna de insetos, os mosquitos transgênicos seriam uma solução viável a médio e longo prazo, caso se mostre efetiva, podem ser uma forma de controle de casos da doença, como explica o Doutor Pedro Lagerblad, especialista em Artrópodos Hematófagos e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ): "o conhecimento dos genes que o vírus utiliza para infectar o mosquito, assim como os genes utilizados pelo mosquito para se defender do vírus, pode ajudar neste tipo de pesquisa. Estes mosquitos poderiam representar uma forma de controle de menor impacto ambiental e menor custo."

O professor esclarece ainda que essa possibilidade menos imediata pode ser uma solução para resolver a questão da resistência do mosquito aos inseticidas do mercado. Segundo Pedro Lagerblad, o uso indiscriminado dos inseticidas acabou por selecionar os animais que apresentam uma freqüência de genes resistentes ao remédio. No entanto, com o seqüenciamento do genoma do animal, o combate será facilitado, aproveitando-se "pontos fracos" encontrados na pesquisa. Um deles seria o olfato, principal sentido de orientação do Aedes aegypti, que pode servir de base para o desenvolvimento de um inseticida que desoriente o mosquito e afete apenas a espécie transmissora da dengue.

Com aproximadamente 1% de todas as publicações científicas anuais do mundo, 7% das relativas ao Aedes aegypti e à dengue, o que representa cerca de 60 artigos por ano, o Brasil tem tecnologia para desenvolver esses mosquitos transgênicos. "O Brasil tem pelo menos três grupos de pesquisa capacitados para isso", afirma o Professor Pedro.

De forma simplificada, o que esses grupos fariam, seria inserir um gene artificial nos ovos de mosquito, em uma etapa precoce do desenvolvimento do animal. Esse gene estaria associado a uma seqüência de DNA que promoveria a inserção destas informações no genoma embrionário.

O professor diz que, apesar disso, a etapa mais difícil não seria desenvolver os mosquitos em laboratórios, e sim inseri-los na natureza: "a tecnologia para produção de transgênicos e alguns genes possíveis de conferirem refratariedade já existem. A etapa que parece ser a mais complicada, hoje, é a fixação dos mosquitos na natureza, onde a incerteza é grande", por causa da competição com as demais espécies. No entanto, esses "novos" mosquitos podem preencher as lacunas deixadas pelos inseticidas de largo espectro.


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