Biotecnologia à caça do vírus |
Cientistas
brasileiros desenvolvem plataforma inovadora de testes
NAT
Acabar com o período da "janela imunológica" é
um dos maiores desafios da hemoterapia mundial.
A ciência ainda não descobriu meios de contornar
a natureza do vírus e fechar por completo a janela,
entretanto, já consegue reduzir a uma pequena fresta
o intervalo ente a infecção e a detecção do vetor.
Nesse processo os Testes de Ácido Nucleico (NAT)
são importantes atores biotecnológicos ao estabelecerem
uma metodologia mais precisa para indicar, na corrente
sanguínea, a presença de vírus para inúmeras patologias.
"No estado da arte atual da pesquisa e do desenvolvimento
científico ainda não existe uma forma de se fechar
esta janela, de zerar a contagem, mas caminhamos
para que este período seja o menor possível", explica
o professor Rodrigo
de Moraes Brindeiro, do Laboratório de Virologia
Molecular, do Instituto de Biologia, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), uma das instituições
co-partícipes do acordo de cooperação científica
para o desenvolvimento de uma plataforma de testes
NAT de tecnologia nacional.
A triagem pelo Teste de Ácido Nucleico (NAT) é realizada
em diversos países da Europa, além de Estados Unidos,
Austrália e Japão para aumentar as chances de identificação
de contaminações virais em doações de sangue. A
introdução gradual dos testes NAT na hemorrede brasileira
está prevista para o segundo semestre de 2008. Com
a nova técnica a "janela imunológica" cairá de 22
para 10 dias (redução de 55%) no caso do HIV, e
de 90 para 10 a 15 dias para o vírus da hepatite
C - HCV (redução média de 90%).
Kit multiplex para detecção HIV e HCV
Segundo o Ministério da Saúde, atualmente, o número
aproximado de doações de sangue por ano no Brasil
é de 5 milhões de bolsas e cada uma delas é testada
individualmente para verificar a ocorrência de infecção
por vírus. A presença dos vírus HIV e HCV ente os
doadores de sangue é de 0,1% e 0,3%, respectivamente.
"Nós desenvolvemos um kit multiplex para o HIV e
o HCV por causa dos riscos para saúde pública nos
bancos de sangue e na produção de hemoderivados.
Eventualmente o Brasil também poderia desenvolver
um NAT para dengue, mas como ainda não foi comprovada
a sua transmissão de pessoa a pessoa pelo sangue,
ele ainda não é uma prioridade de investimentos",
ressalta Brindeiro.
Histórico do NAT no Brasil
O desenvolvimento de uma tecnologia NAT nacional
se tornou uma prioridade do Ministério da Saúde,
a partir de fevereiro de 2002, quando foi publicada
a Portaria n°262, que tornava obrigatória a inclusão
dos testes NAT no âmbito da hemorrede nacional,
em todas as amostras de sangue de doadores. O alto
custo dos testes importados sensibilizou cientistas
brasileiros a unirem esforços em prol da criação
de um kit molecular simples, automatizado e altamente
sensível para a detecção simultânea do HIV e HCV.
A plataforma de testes NAT brasileira foi desenvolvida
em conjunto com o Instituto em Imunobiológicos (Biomanguinhos)
da FIOCRUZ, a Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) e o Instituto de Biologia Molecular do Paraná
(IBMP), com recursos do Ministério da Saúde através
de convênio com o Fundo Nacional de Saúde (FNS)
e com a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).
No segundo semestre de 2007 serão realizados estudos-piloto
e, em seguida estudos multicêntricos (em três hemocentros
brasileiros) para a aprovação e validação dos testes,
assim como obtenção do registro necessário junto
à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
A Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnlogia
(HEMOBRÁS) irá fabricar a plataforma de testes NAT
em parceria com os centros e institutos que estão
desenvolvendo as pesquisas.
"Pool" de testes com calibrador bio-seguro
O acordo de cooperação técnico-científica apoiado
pelo governo possibilitou o desenvolvimento de um
know-how nacional que irá permitir uma significativa
redução nos custos de utilização da tecnologia NAT
na hemorrede brasileira. "Além da plataforma ser
multiplex, para o HIV e o HCV, ela tem a capacidade
de realizar multi-testes em um "pool" de 6 amostras.
Ou seja, com o custo de um teste, podemos realizar
6 simultaneamente", observa Dr. Brindeiro.
A concentração do conhecimento científico favoreceu
a descoberta de uma forma inédita de se realizar
o controle biológico da plataforma de testes NAT,
com qualidade de ponta se comparado com testes internacionais.
"A nossa grande inovação foi o desenvolvimento de
um vírus calibrador bio-seguro, único para HIV e
HCV, que atua na plataforma como um controlador
biológico", revela o cientista que ressalta também
a importância do projeto para a verticalização da
biotecnologia no Brasil e a produção de hemoderivados
em território nacional.
ELISA x NAT
Enquanto os testes clássicos sorológicos e diagnósticos,
como o ELISA, identificam os anticorpos, o NAT,
por técnica de biologia molecular, procura diretamente
um componente do próprio vírus, o ácido nucleico.
"Por maior que seja a sensibilidade do teste ELISA,
existe um preceito biológico que ele não passa,
já que há a necessidade do organismo ter produzido
pelo menos um anticorpo e demanda tempo até que
o organismo reconheça o agente", analisa o professor
Rodrigo Brindeiro.
Nos testes feitos dentro da janela imunológica há
o risco do exame dar o famoso "falso-negativo",
apesar de o paciente já ter entrado em contato com
o agente infeccioso. No início a janela do HIV era
de três meses, atualmente os testes ELISA convencionais
nos hemocentros conseguem detectar a presença do
HIV em 22 dias. Recente inovação biotecnológica,
o teste ELISA P24 antígeno detecta a proteína do
vírus e consegue reduzir a janela para 16 dias,
entretanto, necessita de tempo para que se tenha
quantidade suficiente do vetor para atingir a sensibilidade
do teste.
"Comparado ao ELISA antígeno, o NAT é mais avançado,
pois consegue amplificar o sinal do ácido nucleico
facilitando a visualização do vírus no teste, mesmo
que em uma quantidade muito reduzida do vetor",
avalia Brindeiro, que ressalta ainda o fato de as
duas técnicas, o ELISA e NAT, serem complementares.
"É importante observar que um teste não substitui
o outro. O NAT não descarta a sorologia (ELISA),
pois apesar de reduzir a janela imunológica, pode
falhar no período pós-infecção", esclarece o professor
Rodrigo de Moraes Brindeiro.
Saiba mais:
Instituto de Biologia/UFRJ: http://www.biologia.ufrj.br
Fundo Nacional de Saúde: http://
www.fns.saude.gov.br
Finep: http://www.finep.gov.br
DJi: http://
www.dji.com.br
IBMP: http://
www.ibmp.org.br
Bio-Manguinhos: http://
www.bio.fiocruz.br