IVFRJ On Line - 48ª Edição
Ano III - 18 de julho de 2007
Biotecnologia à caça do vírus
Cientistas brasileiros desenvolvem plataforma inovadora de testes NAT

Por Lucia Beatriz

Acabar com o período da "janela imunológica" é um dos maiores desafios da hemoterapia mundial. A ciência ainda não descobriu meios de contornar a natureza do vírus e fechar por completo a janela, entretanto, já consegue reduzir a uma pequena fresta o intervalo ente a infecção e a detecção do vetor. Nesse processo os Testes de Ácido Nucleico (NAT) são importantes atores biotecnológicos ao estabelecerem uma metodologia mais precisa para indicar, na corrente sanguínea, a presença de vírus para inúmeras patologias.

"No estado da arte atual da pesquisa e do desenvolvimento científico ainda não existe uma forma de se fechar esta janela, de zerar a contagem, mas caminhamos para que este período seja o menor possível", explica o professor Rodrigo de Moraes Brindeiro, do Laboratório de Virologia Molecular, do Instituto de Biologia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), uma das instituições co-partícipes do acordo de cooperação científica para o desenvolvimento de uma plataforma de testes NAT de tecnologia nacional.

A triagem pelo Teste de Ácido Nucleico (NAT) é realizada em diversos países da Europa, além de Estados Unidos, Austrália e Japão para aumentar as chances de identificação de contaminações virais em doações de sangue. A introdução gradual dos testes NAT na hemorrede brasileira está prevista para o segundo semestre de 2008. Com a nova técnica a "janela imunológica" cairá de 22 para 10 dias (redução de 55%) no caso do HIV, e de 90 para 10 a 15 dias para o vírus da hepatite C - HCV (redução média de 90%).


Kit multiplex para detecção HIV e HCV

Segundo o Ministério da Saúde, atualmente, o número aproximado de doações de sangue por ano no Brasil é de 5 milhões de bolsas e cada uma delas é testada individualmente para verificar a ocorrência de infecção por vírus. A presença dos vírus HIV e HCV ente os doadores de sangue é de 0,1% e 0,3%, respectivamente.

"Nós desenvolvemos um kit multiplex para o HIV e o HCV por causa dos riscos para saúde pública nos bancos de sangue e na produção de hemoderivados. Eventualmente o Brasil também poderia desenvolver um NAT para dengue, mas como ainda não foi comprovada a sua transmissão de pessoa a pessoa pelo sangue, ele ainda não é uma prioridade de investimentos", ressalta Brindeiro.


Histórico do NAT no Brasil

O desenvolvimento de uma tecnologia NAT nacional se tornou uma prioridade do Ministério da Saúde, a partir de fevereiro de 2002, quando foi publicada a Portaria n°262, que tornava obrigatória a inclusão dos testes NAT no âmbito da hemorrede nacional, em todas as amostras de sangue de doadores. O alto custo dos testes importados sensibilizou cientistas brasileiros a unirem esforços em prol da criação de um kit molecular simples, automatizado e altamente sensível para a detecção simultânea do HIV e HCV.

A plataforma de testes NAT brasileira foi desenvolvida em conjunto com o Instituto em Imunobiológicos (Biomanguinhos) da FIOCRUZ, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), com recursos do Ministério da Saúde através de convênio com o Fundo Nacional de Saúde (FNS) e com a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).

No segundo semestre de 2007 serão realizados estudos-piloto e, em seguida estudos multicêntricos (em três hemocentros brasileiros) para a aprovação e validação dos testes, assim como obtenção do registro necessário junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). A Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnlogia (HEMOBRÁS) irá fabricar a plataforma de testes NAT em parceria com os centros e institutos que estão desenvolvendo as pesquisas.


"Pool" de testes com calibrador bio-seguro

O acordo de cooperação técnico-científica apoiado pelo governo possibilitou o desenvolvimento de um know-how nacional que irá permitir uma significativa redução nos custos de utilização da tecnologia NAT na hemorrede brasileira. "Além da plataforma ser multiplex, para o HIV e o HCV, ela tem a capacidade de realizar multi-testes em um "pool" de 6 amostras. Ou seja, com o custo de um teste, podemos realizar 6 simultaneamente", observa Dr. Brindeiro.

A concentração do conhecimento científico favoreceu a descoberta de uma forma inédita de se realizar o controle biológico da plataforma de testes NAT, com qualidade de ponta se comparado com testes internacionais. "A nossa grande inovação foi o desenvolvimento de um vírus calibrador bio-seguro, único para HIV e HCV, que atua na plataforma como um controlador biológico", revela o cientista que ressalta também a importância do projeto para a verticalização da biotecnologia no Brasil e a produção de hemoderivados em território nacional.


ELISA x NAT

Enquanto os testes clássicos sorológicos e diagnósticos, como o ELISA, identificam os anticorpos, o NAT, por técnica de biologia molecular, procura diretamente um componente do próprio vírus, o ácido nucleico. "Por maior que seja a sensibilidade do teste ELISA, existe um preceito biológico que ele não passa, já que há a necessidade do organismo ter produzido pelo menos um anticorpo e demanda tempo até que o organismo reconheça o agente", analisa o professor Rodrigo Brindeiro.

Nos testes feitos dentro da janela imunológica há o risco do exame dar o famoso "falso-negativo", apesar de o paciente já ter entrado em contato com o agente infeccioso. No início a janela do HIV era de três meses, atualmente os testes ELISA convencionais nos hemocentros conseguem detectar a presença do HIV em 22 dias. Recente inovação biotecnológica, o teste ELISA P24 antígeno detecta a proteína do vírus e consegue reduzir a janela para 16 dias, entretanto, necessita de tempo para que se tenha quantidade suficiente do vetor para atingir a sensibilidade do teste.

"Comparado ao ELISA antígeno, o NAT é mais avançado, pois consegue amplificar o sinal do ácido nucleico facilitando a visualização do vírus no teste, mesmo que em uma quantidade muito reduzida do vetor", avalia Brindeiro, que ressalta ainda o fato de as duas técnicas, o ELISA e NAT, serem complementares. "É importante observar que um teste não substitui o outro. O NAT não descarta a sorologia (ELISA), pois apesar de reduzir a janela imunológica, pode falhar no período pós-infecção", esclarece o professor Rodrigo de Moraes Brindeiro.


Saiba mais:

Instituto de Biologia/UFRJ: http://www.biologia.ufrj.br
Fundo Nacional de Saúde
: http:// www.fns.saude.gov.br
Finep: http://www.finep.gov.br
DJi: http:// www.dji.com.br
IBMP
: http:// www.ibmp.org.br
Bio-Manguinhos: http:// www.bio.fiocruz.br


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