IVFRJ On Line - 51ª Edição
Ano III - 02 de outubro de 2007
5° Congresso RIOPHARMA
Em busca do melhor exercício da profissão farmacêutica no século XXI

Por Lucia Beatriz

 
Muito aguardado, por estudantes e profissionais da área farmacêutica, de 19 a 22 de setembro, foi realizado, no Centro de Convenções do Hotel Glória, o
5° Congresso RIOPHARMA
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Organizado pelo Conselho Regional de Farmácia (CRF-RJ) e pela Associação Brasileira de Farmacêuticos (ABF), o evento reuniu dezenas de especialistas, pesquisadores, autoridades e dirigentes de entidades e órgãos públicos para discutir o melhor exercício da Farmácia no século XXI.

A mão direita, "semi-robotizada", estendida aos céus, como se estivesse clamando por socorro para se "re-humanizar".
Essa foi a simbologia, usada pelo RIOPHARMA, para estimular a reflexão a respeito dos impactos que o desenvolvimento da ciência e tecnologia vem impondo em nossa sociedade.

"Humanização e Respeito à Vida" foi o tema escolhido para permear os debates do 5° RIOPHARMA. "Um enorme desafio hoje colocado para os farmacêuticos é como incorporar a inovação tecnológica, as novas descobertas científicas, sem esquecer de cuidar, sem permitir a exclusão e ao mesmo tempo preservando a ética nas relações humanas e protegendo a vida", ressaltou a Dra. Mirian Moura, presidente da Comissão Organizadora, em seu discurso de abertura do evento.

Foto: Yosikazu Maeda
MESA DE ABERTURA 5° RIOPHARMA



Maratona de conhecimento

Espaço privilegiado de atualização profissional, intercâmbio de informações técnico-científicas e fórum qualificado para a discussão de políticas farmacêuticas, o 5° RIOPHARMA reuniu mais de 1.100 congressistas de vários estados brasileiros. Durante os quatro dias de evento foram realizados sete cursos, 4 conferências, 19 palestras e 12 mesas-redondas que contemplaram todos os ramos da atividade farmacêutica. Trabalhos científicos, inscritos para o Prêmio RIOPHARMA, também ficaram disponíveis ao público sob a forma de pôster.

Questões importantes, presentes no dia-a-dia do trabalho farmacêutico, foram enfocadas, pelos especialistas convidados, através de uma perspectiva humanista, que primou pelo estímulo de uma reflexão ética e filosófica sobre o exercício da profissão. Assistência e atenção farmacêutica, o controle da dor, acesso e uso racional dos medicamentos, farmacovigilância, farmácia clínica, drogas de abuso, fracionamento, nanotecnologia e patentes farmacêuticas foram alguns dos assuntos abordados no evento.


A Farmácia a serviço da vida

A falta de investimento para a descoberta de medicamentos, no âmbito das doenças negligenciadas, foi apontada como uma das mais desumanas formas de atuação da indústria farmacêutica: "Somente 1% dos novos medicamentos é destinado às doenças negligenciadas, necessitamos construir um novo paradigma para a renovação tecnológica colocando a saúde pública em primeiro lugar" - propôs James Fitzgerald, coordenador de Medicamentos e Tecnologias da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), no Brasil.

Foto: Yosikazu Maeda
Conferência James Fitzgerald (OPAS/OMS)

A necessidade de humanizar o sistema de patentes para promover o acesso aos medicamentos também foi um tema bastante debatido no RIOPHARMA. "As patentes vêm na contramão do sistema capitalista que prima pela concorrência. Ao permitir que uma só empresa explore o produto no mercado, os preços se elevam e isso tem um forte impacto no acesso da população a bens essenciais à saúde" - refletiu Luis Carlos Wanderley Lima, coordenador de propriedade intelectual da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).


Medicalização da Vida

Enquanto uns sofrem com a falta de acesso ao medicamento; para outros, o problema é o excesso. A intensa "medicalização da vida" promovida pela indústria farmacêutica já está sendo considerada um problema de saúde pública. Para o médico farmacologista Albert Figueras, da Universidade Autônoma de Barcelona, um dos principais papéis do farmacêutico, na sociedade moderna, é conscientizar a população a reduzir o consumo dos medicamentos.

Foto: André Telles
Dr. Albert Figueras critica o consumo exagerado de medicamentos.

"É preciso aproveitar a farmácia interior que todos nós temos. A pressa da atualidade, a necessidade do bem estar e da felicidade desesperada nos faz buscar, nos medicamentos e nas drogas de abuso, substâncias que são produzidas em nosso próprio organismo. Oxitocinas, endocabinóides, endorfinas são liberadas pelo cérebro através de estímulos como exercício físico, carícias, beijos, abraços, uma massagem", explicou Dr. Figueras, que acredita plenamente na substituição de diversos medicamentos por hábitos cotidianos mais saudáveis e humanos.


Humanizar através da Comunicação

Em alguns profissionais o talento da comunicação é nato; em outros, a aptidão pode vir do coração. Isto pode ser testemunhado na prática, no 5° RIOPHARMA, tanto no palco quanto na platéia. Alguns palestrantes deram um verdadeiro "show" de interpretação no desenvolvimento de suas temáticas; já outros, fizeram o público se emocionar com a sinceridade de seus relatos. A inteligência e perspicácia da platéia, na hora das perguntas, foi motivo de surpresa para especialistas que, por vezes, preferiam se abster da resposta, curvando-se apenas diante das observações apresentadas.

Foto: Lucia Beatriz Torres

O saber comunicar é uma habilidade que o farmacêutico precisa estar sempre desenvolvendo para, a cada dia, humanizar o exercício da sua profissão. Isto vale para qualquer área que esteja atuando: seja na dispensação e no uso correto de medicamentos, na assistência e atenção farmacêutica, na notificação de efeitos adversos, na relação com a equipe interdisciplinar de saúde, no contato com o paciente e sua família ou nos fóruns de discussão de políticas farmacêuticas.

O conhecimento farmacêutico precisa circular na sociedade para que ele possa se tornar, de fato, um agente transformador da qualidade de vida dos cidadãos. Esta temática já esteve presente em edições anteriores do Congresso RIOPHARMA, entretanto, mostra-se ainda bastante atual para delinear o melhor exercício da profissão farmacêutica no século XXI.


"Nenhum conhecimento terá valor se ele não conduzir à transformação"
Lorenzo Cera Bandeira - Farmacêutico,
especialista em atenção farmacêutica



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