IVFRJ On Line - 52ª Edição
Ano III - 16 de outubro de 2007
Medicamentos: fracionar ou não fracionar? Eis a questão.

Por Lúcia Beatriz

A obrigatoriedade do fracionamento de medicamentos está em debate no Congresso. O Projeto de Lei 7029/06, que torna o fracionamento de medicamentos compulsório, está em trâmite na Câmara, desde maio de 2006, e já sofre pressão da indústria farmacêutica e do setor de farmácias, que se opõe à obrigatoriedade. Mas quais são os reais benefícios do fracionamento para a população? E quais são as principais dificuldades apresentadas pelos laboratórios nacionais e pelas farmácias para a recusa da nova proposta? Conheça agora os dois lados da questão.

Medicamentos na dose necessária para concluir um tratamento. Apesar da política do fracionamento ter sido lançada em janeiro de 2005, o consumidor ainda encontra dificuldade para adquirir os medicamentos fracionados. Como a lei ainda não foi aprovada, não pode haver um órgão fiscalizador obrigando as farmácias e drogarias a aderirem ao fracionamento.

Na avaliação do diretor de Assistência Farmacêutica do Ministério da Saúde, Dirceu Barbano, da forma como o medicamento é vendido hoje, a compra não-fracionada acaba sendo compulsória para o usuário - "Às vezes o comprador precisa só de 15 comprimidos, mas é obrigado a comprar 30".

O programa ainda não saiu do papel. Enquanto a indústria farmacêutica e as farmácias reclamam que não há demanda pelos fracionados, os consumidores relatam que não encontram o produto à venda. "Hoje já temos um número razoável de medicamentos em embalagens fracionadas, disponibilizados por alguns grandes laboratórios nacionais, mas não há demanda por parte do atacado e varejo, pelo que sabemos", declarou Dr. Carlos Geyer, presidente da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (ALANAC) ao IVFRJ On Line.


Prós e contras do fracionamento

O fracionamento, além de representar a esperança da ampliação do acesso aos medicamentos para a população de baixa renda, pode funcionar também como um importante aliado para o uso racional de medicamentos. Segundo o Ministério da Saúde, quantidades e dosagens corretas de medicamentos para um tratamento específico, além de representar economia, evita sobras, o que reduz os riscos de intoxicação provocada pelo uso inadequado do medicamento.

Foto Ministério da Saúde
O registro de apresentações fracionadas triplicou em 2007 - saltou de 167 para 500.

Levantamento realizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) revela que o registro de apresentações fracionadas triplicou em 2007 - saltou de 167 para 500. Entretanto, apesar de obter a licença, muitos laboratórios não os fabricam, visto que ainda não há uma obrigatoriedade legal que estabeleça um prazo para o fracionado chegar ao consumidor depois de registrado e nem que exija das farmácias e drogarias a venda do produto.

Segundo a ALANAC, a principal dificuldade que o setor farmacêutico nacional irá enfrentar, caso a obrigatoriedade passe no Congresso, é a adequação de suas linhas de produção ao fracionamento. "O custo econômico é proibitivo se não houver uma escala muito grande de produção e correspondente demanda do mercado", afirmou Dr. Geyer, que teme o prejuízo causado às pequenas e médias indústrias farmacêuticas nacionais.

"Apesar de ter triplicado o número de registro de apresentações fracionadas, a Anvisa ainda não tem como saber quantos medicamentos fracionados estão, de fato, disponíveis ao mercado e quantas farmácias estão realizando este tipo de serviço", foi o que revelou Cristina Marinho Ribeiro, assessora técnica da diretoria da Anvisa.


Fim da obrigatoriedade x garantia de acesso aos fracionados

"A sugestão da ALANAC é pela não obrigatoriedade do fracionamento e pelo registro de embalagens com quantidades próximas das usualmente prescritas, pois a maioria das patologias têm esquemas posológicos definidos e de conhecimento da própria Anvisa, que seria responsável por determinar estas quantidades" - foi o que propôs Dr. Carlos Geyer, para a solução deste impasse no Congresso.

Uma outra questão levantada pela Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais é o aumento do risco sanitário na operacionalização do sistema de fracionamento, visto que as Vigilâncias Sanitárias, estaduais e municipais, têm graves problemas para fiscalizar as mais de 50 mil farmácias existentes no país.

"Enquanto os problemas de fiscalização dos pontos de venda não forem resolvidos e a venda de medicamentos sob prescrição não for dispensada mediante apresentação da receita médica, qualquer prática de fracionamento pode ser muito arriscada, devido ao risco sanitário envolvido", chamou a atenção Dr. Geyer, que lembra ainda ser imprescindível a presença do farmacêutico para promover a dispensação do medicamento fracionado.


Trâmite no Congresso

Durante o trâmite do Projeto de Lei 7029/06 no Congresso, na Comissão de Defesa do Consumidor, foi acrescentado ao projeto um substituitivo que eliminava a obrigatoriedade de fabricação dos medicamentos fracionados e autorizava o repasse de preços para o consumidor. Já, ao passar pela Comissão de Desenvolvimento Econômico Indústria e Comércio, este substituitivo foi derrubado, o projeto voltando praticamente ao seu formato original.

Uma tramitação no mínimo curiosa: a Comissão que deveria defender os direitos do consumidor tentou suprimí-los e a que deveria zelar pelos interesses da indústria e comércio, não conseguiu aprovar um parecer totalmente favorável às suas reivindicativas. A única flexibilização da obrigatoriedade do fracionamento, aprovada na última Comissão, diz respeito aos laboratórios farmacêuticos que já oferecem medicamentos em embalagem com quantidade compatível ao tratamento. Neste caso, a Anvisa poderia, em caráter excepcional, não exigir o registro do produto em embalagem fracionável.

Antes de ir para votação no plenário, o Projeto de Lei ainda precisa passar por mais duas Comissões: Seguridade Social, Família e Constituição e na de Justiça e Cidadania. Quem tiver interesse em acompanhar o trâmite do projeto de Lei 7029/06, basta se cadastrar no site da Câmara dos Deputados. O futuro da política do fracionamento está nas mãos dos nossos parlamentares e a pressão popular, neste caso, pode fazer a diferença.


Saiba Mais:
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Texto do Projeto de Lei 7029/06
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Cadastro para acompanhamento de projetos na Câmara dos Deputados
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Lista de medicamentos Fracionados




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