IVFRJ On Line - 53ª Edição
Ano III - 06 de novembro de 2007
Carta de Florianópolis
Recomendações para o Uso Racional de Medicamentos

Por Lucia Beatriz


De autoria coletiva, resultado de quatro dias de discussões do 2º. Congresso Brasileiro sobre o Uso Racional de Medicamentos, a “Carta de Florianópolis” é a contribuição de trabalhadores de saúde, gestores públicos, docentes, pesquisadores, estudantes e representações da sociedade civil para a construção de políticas públicas consistentes, que assegurem a população brasileira o acesso aos medicamentos e as tecnologias, de forma racional, como parte da garantia do direito à saúde prevista na constituição.

Com 22 pontos, a “Carta de Florianópolis – Incorporando o uso racional de medicamentos à agenda de saúde do Brasil” é um conjunto de recomendações que devem ser consideradas pelas diferentes entidades, instituições públicas ou privadas e encapsuladas pelas diferentes instâncias do governo.

A primeira recomendação expressa que a promoção do uso racional de medicamentos seja parte integrante de estratégias de Políticas Nacionais de Estado. A segunda faz alusão ao acesso aos medicamentos, que como parte do direito de cidadania, deve incorporar o uso racional como prática permanente no contexto de atenção à saúde, tanto no setor público quanto no privado. A população indígena também foi lembrada no documento, que revindica o direito à saúde e à assistência farmacêutica, a todos os seus descendentes.

“As propostas são bem concretas. Vamos incorporar a Carta de Florianópolis ao plano de trabalho do Comitê de Uso Racional de Medicamentos”, afirmou James Fitzgerald, da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS).

O IVFRJ On Line destacou 10 temas referentes ao uso racional de medicamentos e associou as propostas da “Carta de Florianópolis” com comentários proferidos por diferentes especialistas durante a intensa programação do evento.


1) Lista de Medicamentos Essenciais

± Efetiva incorporação da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais aos serviços de saúde, nos seus diferentes níveis de atenção, como instrumento racionalizador do acesso aos medicamentos, tanto no âmbito do setor público quanto do setor privado.

Foto: Alice Fialho
Profa. Lenita Wannmacher (UPF/RS) e
James Fitzgerald (OPAS/OMS)

“É necessário lutar pela divulgação e adesão às listas para incorporar os medicamentos essenciais à prática, derrubando tabus construídos. Lista de medicamentos essenciais não é coisa para pobre e nem só para atenção básica. Ela está baseada em critérios de eficácia, segurança e custo-efetividade para as doenças mais prevalentes na população e deve ser seguida por todos os serviços de saúde”
Lenita Wannmacher
(Membro efetivo do Comitê de Especialistas em
Seleção e Uso de Medicamentos)



2) Avaliação das Novas Tecnologias

± Ampliação dos esforços institucionais para a definição de critérios e sua efetiva aplicação no processo de avaliação de tecnologias de saúde como pressuposto para sua incorporação crítica no sistema de saúde do país.
± Necessidade da inclusão do interesse sanitário como único critério a ser observado para a concessão de registro de medicamentos no país.
± Anuência prévia para a concessão de patentes para medicamentos e processos farmacêuticos no Brasil.

“Os registros de medicamentos tem que refletir se a tecnologia é passível de ser absorvida pelo sistema público de saúde. O estado não pode ficar refém da indústria farmacêutica”
Dirceu Barbano
(Diretor Depto. Assistência Farmacêutica- Ministério da Saúde)



3) Proibição da Propaganda

± A adoção de dispositivos legais restritivos incluindo a possibilidade de proibição da propaganda de medicamentos enquanto instrumento de indução a um tipo de consumo irracional.

Foto:Lúcia Beatriz
Clair Castilhos (CNS) e Maria Eugenia Cury (FENAFAR)
Fizeram crítcas às propagandas de medicamentos no Espaço de diálogo

“A Propaganda de medicamentos não deve ser regulamentada, deve ser proibida”
Maria Eugênia Cury
(Diretora da Federação Nacional dos Farmacêuticos- FENAFAR)

“Medicamentos não podem se vendidos como simples mercadoria pois eles modificam as funções vitais do corpo das pessoas”
Clair Castilhos Coelho
(Conselheira do Conselho Nacional de Saúde)



4) Ensino e Pesquisa

± A educação para o uso racional de medicamentos precisa ser fomentada no âmbito das entidades associativas, dos gestores e da sociedade de forma mais ampla.
± A promoção do uso racional de medicamentos deve ser o instrumento de ensino e pesquisa estratégico para o desenvolvimento das ciências multidisciplinares da saúde.
± Órgãos de fomento para a pesquisa, capacitação de docentes e a pós-graduação devem incorporar o uso racional de medicamento como termo estratégico.

“É necessário uma revisão na carreira universitária. Convivemos com uma estrutura acadêmica que desconhece a importância deste tema”
Norberto Rech
(Diretor Adjunto da ANVISA)



5) Informações Independentes sobre medicamentos


± Geração e difusão de informação isentas, confiáveis, atualizadas e corretas sobre medicamentos na perspectiva de impactos positivos para a promoção do uso racional entre os profissionais de saúde, gestores do SUS e população.
± Instituição de uma Política Nacional de Saúde que contemple os Centros de Informações de Medicamentos e os Centros de Informação e Assistência Toxicológica como fonte de informações confiáveis e independentes.

Foto: Alice Fialho
IVFRJ On Line entrevista James Fitzgerald (OPAS/OMS)

“Publicar boletins informativos nacionais como contra-proposta da propaganda”
James Fitzgerald
(Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS/OMS)


6) Comissão de Farmácia e terapêutica

± Estímulo para o desenvolvimento de Comissões de Farmácia e Terapêutica, cientificamente embasadas em evidências e articuladas em rede como estratégia fundamental para o uso racional de medicamentos em hospitais, secretaria municipais e estaduais de saúde e serviços de saúde em geral.

“A Comissão de Farmácia e Terapêutica é o coração do Uso Racional de Medicamentos nos hospitais pois fazem uma avaliação com base em evidências científicas”
Clarisse Petramale
(Gerência de Vigilância em Saúde – ANVISA)

“É importante ter Comissões de Farmácia e Terapêutica forte onde a decisão sobre a prescrição seja feita de forma multidisciplinar, isenta de conflitos de interesse”
Carlos Alberto Justo
(Diretor Geral do Hospital Universitário da UFSC)


7) Protocolos Clínicos

± Adoção de protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas adequados, atualizados com base nas melhores evidências e internalizados nos processos de trabalho em saúde.

“Os protocolos clínicos são uma ferramenta importante para o uso racional de medicamentos, que os gestores não estão sabendo utilizar. Obedecendo fielmente os seus critérios é possível fazer economia e estender o tratamento a um maior número de pessoas”
Albieri Adolfo Feltrin
(Farmácia de Medicamentos Especiais de Grupo Hospitalar Conceição –RS)



8) Judicialização

± Adoção de mecanismos adequados e ágeis para ter interfaces positivas nas diferentes esferas do SUS com o poder judiciário e os operadores do direito. O objetivo é obter maior riqueza de informações e subsídios para a tomada de decisões que impactem o sistema de saúde do país.

“A caneta do médico pode quebrar o sistema de saúde em poucos dias. Há uma Indústria de liminares judiciais financiada pelos laboratórios farmacêuticos”
Álvaro Nagib Atallah
(Diretor de Centro Cochrane do Brasil e Professor da UNIFESP)



9) Pesquisa e Produção Medicamentos Estratégicos

± Implementação objetiva de políticas direcionadas a internalização no Brasil das pesquisas, do desenvolvimento e da produção de medicamentos considerados estratégicos para o país, com destaque para os processos de cooperação técnica e científica com outros países.

Foto: Alice Fialho
IVFRJ On Line entrevista Jairnilson Paim (UFBA)

“Para incorporar o uso racional de medicamentos no cotidiano SUS é necessário considerar um conjunto de políticas públicas que estimulem a produção industrial de medicamentos essenciais, principalmente os genéricos”
Jairnilson Paim
(Prof. Titular em Políticas Públicas do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA)



10) Farmacovigilância

± Ampliação do suporte institucional para o desenvolvimento da farmacovigilância no país.

“Os ensaios clínicos têm suas limitações próprias. O processo de desenvolvimento de um fármaco não se encerra no registro. É importante monitorar os medicamentos que estão no mercado para a identificação precoce de risco e retirado do produto de circulação”.
Murilo Freitas Dias
(Gerente de Farmacovigilância – ANVISA)



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