Pesquisa revela riscos no uso excessivo da
vitamina E |
Pesquisa feita no Laboratório de Imunofarmacologia
do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fundação
Oswaldo Cruz revela um possível papel antagônico
da vitamina E em processos inflamatórios,
indicando que a administração de uma
dosagem mais alta pode ter como conseqüência
a piora do quadro clínico. Os resultados indicam
que a vitamina E tem um efeito inibitório
na atividade do receptor nuclear PPAR gama – proteínas
existentes no núcleo das células e
que são importantes na comunicação
celular – somente quando administrada em baixa
dosagem.
O que informa a literatura científica é que,
além de ser um dos antioxidantes mais reconhecidos,
por seu efeito contra a deterioração
das células e o envelhecimento, a vitamina
E tem potencial antiinflamatório. Mas de acordo
com a bióloga
Adriana
Ribeiro Silva, coordenadora
da pesquisa que durou dois anos, o efeito antiinflamatório
da vitamina E pode ocorrer por meio do receptor PPAR
gama. “Porém
verificamos que, quando administrada em altas doses,
a vitamina não tem efeito sobre a proteína
e permite a inflamação. Concluímos
que o caráter antiinflamatório da vitamina
seria devido ao efeito inibitório na ativação
do receptor”, explicou a bióloga.
Os pesquisadores utilizaram um modelo experimental
em camundongos, no qual provocaram um processo inflamatório
e avaliaram o efeito do tratamento com vitamina E
por meio da administração de drogas
utilizadas em tratamentos clínicos. Constataram
que uma dose de 40 microgramas por cavidade (por
animal) tem efeito antiinflamatório, mas,
se a dose for aumentada para 120 microgramas por
cavidade, a vitamina E tem atividade pró-inflamatória.
O que chamou a atenção é que
essa última dosagem corresponde a uma dose
comumente prescrita para humanos.
Alerta importante
O estudo do Laboratório de Imunofarmacologia,
dirigido pelo
professor
Hugo Caire traz um alerta
importante quanto ao uso indiscriminado da vitamina
E. “Muitos imaginam
que, quanto maior a dose, melhor o resultado. Constatamos
o contrário, chamando a atenção
para o cuidado com a dosagem”, disse Adriana.
A bióloga ressalta que os resultados da pesquisa
são importantes porque drogas que se ligam
ao receptor PPAR gama são utilizadas clinicamente
e aceitas comercialmente como antidiabéticos.
O próprio estudo começou com a proposta
de avaliar o uso dessas drogas no tratamento da diabetes.
“Nossa idéia era questionar se esses medicamentos
seriam benéficos ou não, uma vez que
havia indícios na literatura científica
de que a ativação desse receptor poderia
ter um efeito pró-inflamatório, isto é,
ao tratar uma doença predispõe o indivíduo
a outro efeito, alterando o seu sistema imunológico”,
afirmou.
A pesquisa, segundo ela, traz uma outra vantagem: “Hoje,
temos dificuldade em produzir drogas que tenham efeitos
desejados e não apresentem os efeitos colaterais.
Cada vez mais se tem tentado encontrar alvos moleculares,
como o PPAR gama, com atividades dentro da célula”,
disse.
A equipe do IOC pretende mostrar os efeitos adicionais
ao conhecido efeito antioxidante da vitamina E
propor sua aplicação como um antiinflamatório
que possa ser utilizado de forma mais ampla, inclusive
em doenças com fundo infeccioso, como infecção
por bactérias e outros microrganismos.
O próximo passo da pesquisa será investigar
as atividades pró e antiinflamatória
da vitamina E com foco na sepse, doença inflamatória
sistêmica que resulta da disseminação
de bactérias a partir de um foco infeccioso
e gera uma resposta inflamatória que pode
acarretar óbito. “A idéia é avaliar
com certeza o efeito dela sobre o PPAR gama, para
tentar caracterizá-lo melhor como benéfico
ou maléfico”, disse Adriana.
Para saber mais:
http://www.fiocruz.br