Propaganda
de medicamentos na mira da legislação brasileira
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Critérios
proíbem frases e imagens que induzam consumo indiscriminado
e automedicação
De acordo com dados da Agência Brasil, o Brasil está
entre os países que mais consomem medicamentos no
mundo, ocupando o 10º lugar no ranking mundial do
mercado farmacêutico, com 1,6 bilhões de caixas vendidas
em 2002. Este número pode ser considerado preocupante,
entre outras coisas, pela influência da mídia no consumo
indiscriminado de medicamentos, que pode levar a automedicação.
A primeira referência que existe na legislação brasileira
sobre propaganda de medicamentos é de 1931. O Decreto
nº 20.377/31 proibia o anúncio de especialidades farmacêuticas
atribuindo efeitos ou propriedades não considerados
aceitos. Já a Lei nº 5.991/73, dispõe sobre o comércio
de drogas, medicamentos, insumos e correlatos. Conhecida
como a Bíblia da Vigilância Sanitária, a Lei nº 6.360,
de 1976, estabelece os critérios de controle que estão
sujeitos medicamentos. O regulamento proíbe a propaganda
de medicamentos controlados em meios de comunicação
de massa, como TV, rádio e revistas. Vinte e quatro
anos depois, foi elaborado um regulamento específico
com os critérios para a publicidade de medicamentos.
A legislação estabelece critérios distintos para a
propaganda de medicamentos de venda livre e controlados
e proíbe frases e imagens que induzam ao consumo de
remédios, como a expressão "aprovado pelo Ministério
da Saúde".
Em
agosto deste ano, a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) publicou uma resolução que
proíbe a divulgação nas listas de preços, como
tablóides, folders, cartazes, encartes, nos
meios de comunicação e nas farmácias e drogarias,
de qualquer conteúdo que caracterize propaganda
comercial de medicamentos vendidos sob prescrição
médica. As
listas não podem conter designações, símbolos,
figuras, desenhos, logomarcas, slogans, nomes
dos fabricantes e outros argumentos de cunho
publicitário desse tipo de produto. |
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O
objetivo é permitir que o consumidor possa optar por
produtos mais baratos e vantajosos sem que isso induza
à automedicação.
De olho nas propagandas
A frase que acompanha as propagandas de medicamentos
em rádio, TV e veículos impressos: "Ao persistirem
os sintomas o médico deverá ser consultado" é uma
obrigatoriedade prevista na Resolução RDC nº 102/
00, publicada pela Anvisa depois de mais de um ano
de discussões com a indústria farmacêutica, órgãos
de defesa do consumidor, conselhos médicos, pessoas
físicas, entre outros setores da sociedade. A Agência
está de olho na publicidade de medicamentos desde
que a Resolução entrou em vigor. Uma equipe monitora
diariamente a programação de TV e tudo o que é publicado
em revistas, catálogos e material técnico-científico
de circulação nacional. Em 2002, um projeto piloto
da Anvisa foi iniciado com o objetivo de expandir
o controle da propaganda para o nível regional. Técnicos
da Agência percorreram o país para fechar convênios
com 15 universidades de todas as regiões brasileiras.
No dia primeiro de outubro, a segunda etapa do projeto
Monitoração de Publicidade de Medicamentos foi tema
de debate no auditório Hélio Fraga do Centro de Ciências
da Saúde da UFRJ. O evento contou com a presença da
Gerente de Controle e Fiscalização de Medicamentos
e Produtos da Anvisa, Maria José Delgado, dos coordenadores
do projeto na UFRJ, professores Hélio de Mattos e
Eliezer Barreiro, além de docentes e alunos de diversas
universidades e faculdades do Brasil .
No encontro, o principal assunto era o combate da
propaganda irregular, que pode trazer riscos à população.
Para o professor Eliezer Barreiro, coordenador do
IVFRJ, é necessário entender que o medicamento, além
de corrigir e trazer o doente ao seu estado de saúde,
promove a saúde. "É importante este resgate, no ensino
farmacêutico, das questões da propaganda e da monitoria
nas questões éticas para fazer da propaganda um importante
instrumento na formação de um cidadão crítico".
A segunda etapa do programa prevê trabalho em parceria
com Faculdades de Farmácia, Comunicação Social, Direito,
Medicina, Biologia, Nutrição, Odontologia, Enfermagem
de universidades públicas e privadas brasileiras,
sendo que, no mínimo, cada uma das cinco regiões do
país esteja representada por, pelo menos, duas universidades.
O projeto terá duração de 12 meses. Somente na primeira
fase, foram captadas 6.000 peças publicitárias, sendo
que 2.000 delas estão sendo analisadas por especialistas
na área de política e comunicação. Eles vão emitir
relatório a ser enviado para uma universidade conveniada,
dedicada a um projeto de educação, que irá elaborar
cartilhas e cartazes.
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