Casca de uva brasileira pode originar novo anti-hipertensivo
|
Pesquisa comprova efeito terapêutico
da uva vitis labrusca em testes com ratos
Convidado há 10 anos pelo CEMI - Central de
Medicamentos – para pesquisar os aspectos
farmacológicos dos extratos obtidos de plantas
cultivadas no Brasil, com o objetivo de obter novos
fármacos, o professor Roberto Soares de Moura, do
Departamento de Farmacologia da UERJ, depois de
muitos trabalhos desenvolvidos com diferentes tipos
de folhas, frutos e vegetais, iniciou uma pesquisa
que comprova o efeito profilático e terapêutico da
vitis labrusca, tipo de uva utilizada na
produção dos vinhos tintos nacionais. “Se o vinho
não fosse tão saudável, Deus teria transformado o
vinho em água e não água em vinho”, afirma Roberto
Moura. Com os resultados obtidos e já patenteados, o
objetivo do pesquisador da UERJ é fabricar um
medicamento com as mesmas características e
composições do vinho para o tratamento da
hipertensão e problemas coronarianos.
A
pesquisa
Os vinhos tomados nas regiões da França, Alemanha e
Itália são feitos a partir da vitis vinífera
(européia), tipo de uva utilizada na obtenção de
vinhos finos e caros
como Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot noir,
entre outros. Apesar disso, segundo o professor, “
a literatura internacional mostra que nem todos os
vinhos tintos apresentam efeito vasodilatador. Desta
forma resolvemos pesquisar o vinho fabricado no
Brasil.”
Assim, para comprovar que os vinhos tintos
produzidos no país, como, por exemplo, os famosos
“vinhos de garrafões”, também são benéficos à saúde,
Roberto Soares de Moura utilizou em sua pesquisa,
além da vitis vinífera,
o extrato hidro-alcoólico da casca da uva vinífera
mais comum no Brasil, a vitis labrusca
(americana). No caso especial de sua pesquisa, foi
utilizada a uva Isabel (muito usada em sucos de uva
e vinhos comuns). Para comprovar a ação dos vinhos nacionais na
prevenção de doenças coronarianas, ele estudou a
ação do extrato da labrusca em ratos. O
extrato teve todo seu etanol evaporado e foi
liofilizado (desidratado) para ser aplicado nos
animais.
De acordo com os resultados, já patenteados
pelo professor,
o extrato hidroalcoólico obtido da casca de
vitis labrusca
apresentou, além de um efeito antioxidante,
vasodilatador e limitador de agregação plaquetária,
o efeito anti-hipertensivo (a hipertensão arterial é
um grande fator de risco para doença coronariana).
“Hoje,
meu maior objetivo é produzir um medicamento a
partir dos componentes da casca da vitis labrusca,
ou até mesmo, do próprio vinho, para pessoas
hipertensas ou com problemas cardíacos”, afirma ele.
No entanto, Roberto Soares de Moura lembra que o
Departamento de Saúde da Grã Bretanha afirmava, em
1995, que “com exceção dos indivíduos que não tomam
bebidas alcoólicas, por razões religiosas ou
médicas, as pessoas de meia idade, idosos e mulheres
na pós-menopausa devem considerar a possibilidade
que a ingestão moderada de vinho (até três doses
diárias) possa ser benéfica para sua saúde”.
Mas, o próprio professor lembra que o consumo
indiscriminado
de bebidas alcoólicas,
inclusive de vinho, por razões de saúde, não deve
ser incentivado. No entanto, se os riscos forem
criteriosamente avaliados, o seu consumo moderado
pode ser benéfico para muitas pessoas.
História
Registros históricos mostram que o uso medicinal do
vinho pelo homem tem sido uma prática que data de
mais de 2.000 anos. Importantes civilizações do
mundo ocidental como os egípcios, os gregos e os
romanos, utilizavam a bebida
como um remédio para o corpo e para a alma.
Já em 1819, doutor Samuel Black, médico Irlandês,
chamou a atenção para a menor incidência de angina
do peito entre os franceses.
No século 20, décadas de pesquisas comprovaram que nos
países considerados grandes consumidores da bebida,
como França, Alemanha e Itália, o índice de doenças
coronárias é bastante reduzido. Na década de 90
comprovou-se que o vinho tinto é antioxidante, que
inibe os radicais livres, limita a agregação
plaquetária e que são vasodilatadores. A França, por
exemplo, mesmo sendo grande consumidora de comidas
gordurosas como o queijo, apresenta uma das mais
baixas taxas de doenças do coração (chamado de
paradoxo Francês).
Preparação
do extrato da vitis labrusca