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IVFRJ On Line - 16ª Edição
Ano II - 27 de julho de 2005
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SUELY LINS GALDINO

Líder do Grupo de Pesquisa em Inovação Terapêutica (GPIT) da Universidade Federal de Pernambuco.

A Professora Suely Galdino atua em várias linhas de pesquisa, entre elas uma sobre o desenvolvimento e avaliação farmacológica e clínica de novos medicamentos para a esquistossomose, uma das chamadas "doenças negligenciadas".

Nesta entrevista ao Boletim IVFRJ On Line, ela fala sobre as formas de se combater essas doenças no Brasil e porque a indústria farmacêutica segue o interesse mercadológico e não farmacológico.


IVFRJ On Line Há algum programa do CNPq direcionado para pesquisas sobre doenças negligenciadas?

Suely Galdino - Devemos, inicialmente, definir o que são doenças negligenciadas. A rigor, as doenças negligenciadas são aquelas para as quais não existem tratamentos eficazes ou adequados. Correspondem àquelas doenças ignoradas por empresas farmacêuticas porque os medicamentos para tratá-las não dão lucro, visto que as pessoas acometidas não têm dinheiro para pagá-los. As doenças negligenciadas, como a leishmaniose, doença do sono, malária, doença de Chagas, dengue, esquistossomose e tuberculose, são responsáveis pela morte de milhares de pessoas a cada ano, principalmente nos países em desenvolvimento, atingindo principalmente suas populações menos favorecidas. Em relação à sua pergunta, a resposta é não. De fato, não existe no CNPq um programa direcionado para pesquisas em doenças negligenciadas, ou seja, um programa de longa duração que suporte uma estrutura gerencial e procedimentos para o processo de concessão e utilização dos recursos financeiros de bolsas e auxílios para estudo dessas doenças. Para tanto, é preciso a implantação de uma rede de pesquisas que reúna um conjunto de áreas representativas da saúde de forma a permitir, desde o estabelecimento de políticas públicas, incluindo a formação de recursos humanos, o fomento a projetos de pesquisa regionais e nacionais, com o apoio internacional, através de recursos oriundos de natureza estatal ou privado. Na realidade, as doenças negligenciadas permeiam vários programas típicos de ciência e tecnologia em vigor do CNPq de forma difusa, sem uma fisionomia própria.

IVFRJ On Line - Que tipo de ação pode (ou deve) ser adotada pelo governo, em seus diferentes níveis (federal, estadual e municipal), para combater as doenças negligenciadas no Brasil?

Suely Galdino - No mundo globalizado em que vivemos, o Brasil representa uma das fronteiras do mundo capitalista. Isto quer dizer que nosso país ainda está sendo conquistado à força para ser transformado em um negócio lucrativo. As doenças negligenciadas não constituem um problema exclusivamente brasileiro, nem tampouco é um problema isolado, que pode ser resolvido por uma Medida Provisória. Eu não teria condições, nem tampouco aqui haveria espaço, para responder a esta questão. Com certeza, as ações de responsabilidade do governo devem integrar as três esferas do poder público, cada um deles com suas funções e competências bem definidas. O apoio do governo à indústria farmacêutica nacional e laboratórios estatais para desenvolvimento de genéricos e para o desenvolvimento de medicamentos inovadores me parece um importante passo para garantir o acesso ao medicamento a 52 milhões de brasileiros miseráveis (Censo 2000, IBGE) que não sabem sequer que o medicamento é um direito fundamental. Do ponto de vista de política exterior, o controle dos acordos comerciais (Acordo TRIPS da OMC) para excluir da patenteabilidade os medicamentos, certamente beneficiará o acesso ao mesmo. Internamente, a otimização do SUS na distribuição de medicamentos seria uma ação que combateria todas doenças, não apenas as negligenciadas.

IVFRJ On Line - Por que a indústria farmacêutica e farmoquímica não são sensíveis aos milhões de vítimas das doenças negligenciadas? A sra. concorda que para eles vale o interesse mercadológico e não o epidemiológico?

Suely Galdino - As respostas destas perguntas são hoje de conhecimento público. O mercado farmacêutico situa-se entre os dez maiores do mundo, atingindo mais de 400 bilhões dólares em 2002. É caracterizado por oligopólios, apresentando uma elevada concentração de empresas transnacionais. Constata-se, ainda, que se trata de um mercado com uma relativa estabilidade em número de unidades vendidas, mas que apresenta aumento progressivo no faturamento. O preço dos medicamentos obedece uma lógica mercadológica internacional, independente da realidade sócio-econômica de cada país. As rentabilidades apresentadas por estas empresas são desproporcionais à inovação que introduzem na área. Tais evidências mostram que o interesse certamente não é epidemiológico.

IVFRJ OnLine- A Doença de Chagas, por exemplo, descoberta em 1909, está preste a completar cem anos de existência, sem cura para sua fase crônica. O que está sendo feito para mudar esse quadro?

Suely Galdino - Ao lado da tripanossomíase africana humana (doença do sono) e da leishmaniose, a doença de Chagas faz parte do grupo das doenças extremamente negligenciadas. Elas afetam apenas as populações dos países em desenvolvimento e estão fora do mercado farmacêutico global. No último dia 08 de junho foi lançada a campanha mundial "Doenças Negligenciadas: será que os governos contraíram a doença do sono?", parafraseando a tripanossomíase africana humana. Esta campanha está sendo elaborada pela Iniciativa de Drogas para Doenças Negligenciadas (Drugs for Neglected Diseases Initiative - DNDi), organização sem fins lucrativos que tem como objetivos colaborar com a pesquisa e o desenvolvimento de medicamentos para doenças negligenciadas, sendo abraçada por órgãos governamentais e não-governamentais como Médicos Sem Fronteiras, Organização Mundial de Saúde, Fundação Oswaldo Cruz, entre outros. Com uma visão otimista, esta iniciativa trará como resultado imediato o aumento da conscientização do poder público e, dessa forma, a constatação da existência de uma competência multidisciplinar instalada em universidades e centros de pesquisa no país para atuar na cadeia de produção de fármacos e medicamentos.


IVFRJ OnLine - Como a universidade e seus doutores podem contribuir para mudar esta situação?

Suely Galdino - A universidade púbica brasileira que desenvolve pesquisa, ensino e extensão de qualidade está incessantemente lutando com problemas de custeio e limitações de recursos. Além de desempenhar o papel principal na produção do conhecimento, cada vez mais é cobrado da universidade o atendimento às demandas sociais, o que nem sempre é alcançado pois ela está enfraquecida. Em se tratando de doenças negligenciadas, e até mesmo das doenças globais, como as doenças cardiovasculares e o câncer, a universidade tem um enorme potencial para contribuir nas três etapas de P&D de medicamentos, particularmente naquelas lacunas já identificadas no pipeline e que impedem o desenvolvimento de novos medicamentos para as doenças negligenciadas. Desta forma, através de projetos de pesquisa multidisciplinares e no formato de redes de pesquisa, a universidade tem capacidade para aprofundar e ampliar pesquisas para a identificação de novas moléculas candidatas a fármacos e medicamentos através do planejamento racional, exploração da biodiversidade brasileira, química combinatória e otimização de protótipos. Para cumprimento das demais etapas que conduzem ao desenvolvimento e registro de um novo medicamento, a universidade também pode contribuir decisivamente, seja na pesquisa pré-clínica, seja na pesquisa clínica, lacunas já identificadas como pontos de estrangulamento no desenvolvimento de medicamentos para doenças negligenciadas. É claro que estas atividades requerem recursos financeiros sistemáticos e estáveis. Programas como o Instituto do Milênio do CNPq podem dar base a essas ações, principalmente porque estão atrelados à formação de recursos humanos de alto nível. A propósito, como estratégia de apoio à política industrial brasileira, o CNPq elaborou, em junho de 2004, uma proposta de atuação como suporte às atividades de C,T&I na área de fármacos, o PROFARMA. Trata-se de uma proposta bastante interessante construída por consultores externos e técnicos do CNPq, que poderá trazer resultados impactantes na área farmacêutica. No entanto, ao que parece, o PROFARMA foi picado pela tse-tsé e padece de uma lombeira, embora acreditamos que não seja tão difícil despertá-lo.

Entrevista concedida por e-mail em 4 de julho de 2005

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