Alga
do litoral brasileiro é promessa no combate
ao HIV
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Pesquisadores
da UFF descobrem atividade antiviral e batalham por
um novo fármaco
Depois de dez anos de estudos, as biólogas Valéria
Laneuville Teixeira e Izabel Paixão Frugulhetti, do
Instituto de Biologia da Universidade Federal Fluminense,
estão próximas de um novo medicamento antiviral, que
se mostrou promissor no combate ao HIV-1. A base da
pesquisa são as algas pardas Dictyota menstrualis
(do litoral fluminense) e Dictyota pfaffii,
encontrada na costa do Atol das Rocas (RN), e da qual
as pesquisadoras extraíram diterpenos polioxigenados
que foram capazes de inibir em 95% a replicação do
vírus da Aids.
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De
acordo com as pesquisadoras, os diterpenos têm
se mostrado como drogas específicas, com baixa
citotoxicidade e grande atividade antiviral
frente a uma infinidade de outros produtos naturais
avaliados. |
Os testes de antivirais avaliam a atividade da enzima
transcriptase reversa do HIV-1, que é uma enzima chave
do ciclo replicativo desse vírus.
"Nos ensaios no sistema acelular, produzimos
as enzimas em bactérias e vemos a atividade desses
diterpenos frente à enzima transcriptase reversa do
HIV. Daí, avaliamos os resultados, comparando, por
meio de estudos sinergísticos, com o AZT, que é a
principal droga utilizada no coquetel contra a Aids",
relata a bióloga Valéria Teixeira.
A
pesquisa está na fase 1, que se compõe de estudos
acelulares in vitro, utilizando culturas
de células. Mas as pesquisadoras já se preparam
para a etapa seguinte. |
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"Estamos entrando na segunda fase, com testes em camundongos,
o que chamamos de testes in vivo. A terceira
fase será com os testes em humanos, então a partir
daí há a possibilidade da droga ir para a prateleira
das farmácias", explica Izabel Frugulhetti. As pesquisadoras
acreditam que se tudo der certo nos testes in vivo,
os avanços serão mais rápidos, podendo a próxima fase,
ou seja, os testes com pessoas, se iniciar em três
ou quatro anos.
Depois que o medicamento for produzido, as biólogas
pensam no futuro em sintetizar os dipertenos e utilizar
as técnicas de modelagem molecular para melhorar a
atividade antiviral. "A modelagem molecular é um
trabalho frente a programas de computador, onde se
usa a atividade biológica da droga e relaciona com
a estrutura da droga, tentando encontrar uma melhor
posição dos radicais, para se obter uma maior atividade
antiviral frente a enzima", planeja Izabel.
Mais eficiente e menos tóxico
Para chegar a um novo medicamento, é importante que
a substância demonstre nos testes que, além do efeito
antiviral, tenha baixa citotoxicidade. No caso do
diterpeno encontrado da alga Dictyota piffaffii
a concentração em média, que dá a inibição do vírus
é 100 vezes acima que o AZT. "Trabalhamos em nossos
testes com uma concentração de 10 µM (micro molar),
e o AZT em média é de 0,01 µM. Entretanto, o diterpeno
não tem tantos efeitos colaterais. É muito importante
essa relação entre atividade antiviral e a citotoxicidade,
porque na verdade não adianta uma droga extremamente
antiviral, mas que mate o paciente. Por isso, acredito
que a conjugação desses dois dados seja fundamental
para uma droga ser promissora contra o HIV. ",
anima-se Izabel. Ainda segundo ela, o próximo passo
é tentar uma patente dos diterpenos.
A pesquisa, que foi financiada pelo CNPq (o maior
financiador), Fundação O Boticário (Atol das Rocas)
e Marinha do Brasil, por meio do IEAPM (Instituto
de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira - Arraial
do Cabo), demonstrou que o diterpeno funciona também
contra o Herpes, que segundo as biólogas é um vírus
mais simples. "Observamos que o diterpeno age também
como inibidor no ciclo replicativo do Herpes. Mas
nossos esforços estão concentrados no HIV, por ser
muito mais difícil encontrar compostos com atividade
antiviral que funcione no ciclo replicativo desse
vírus", explica a bióloga.
Obra do acaso
A bióloga Valéria Teixeira conta que a descoberta
foi obra do acaso. "Eu trabalho com produtos naturais
de algas e a Izabel com antivirais. Eu tive uma aluna
de graduação que foi fazer doutorado com a Izabel
e queria trabalhar nessa área dos antivirais. E depois
de uma série de problemas que ela teve com outras
linhas, ela resolveu testar os produtos que nós estávamos
isolando no laboratório dessa alga. E aí tudo deu
certo e começou assim. Foi por acaso", lembra
Valéria.
Para Izabel os resultados positivos chegaram em boa
hora. "Para você ter uma idéia nós já tínhamos
testado cerca de 400 produtos, entre naturais e sintetizados,
esses com o apoio do Instituto de Química da UFF.
No caso de Herpes alguma coisa até deu certo, mas
para o HIV nós não tivemos tantos resultados. Então
quando o diterpeno da professora Valéria deu certo,
foi uma glória", comemora a bióloga.
E os pontos positivos não param por aí. Na busca por
novos medicamentos antivirais, as pesquisas ajudam
a entender mais o funcionamento dos vírus. "Nosso
objetivo são drogas com potencial atividade antiviral.
Entretanto, essas drogas nos ajudam também a entender
o ciclo replicativo viral, pois existem muitas etapas
que não são compreendidas. Isso também é fundamental
pra gente, por que isso vai levar a estudos futuros
importantes. E quanto mais você conhece a replicação
do vírus, mais se pode atacá-lo com drogas antivirais",
completa Izabel.
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