Futuro
dos fármacos está nas pequenas moléculas |
Imaginação e criatividade. Essa foi a fórmula do sucesso
para se descobrir novos fármacos ensinada pelo Dr.
Simon Campbell, da Royal Society of Chemistry, aos
alunos dos cursos de Química e Farmácia que lotaram
o auditório do Bloco B, da UFRJ, para assistir a sua
palestra. O descobridor do Sildenafil, o Viagra®
veio participar da XII
Escola de Verão em Química Farmacêutica e Medicinal
organizada pelo Laboratório de Avaliação e Síntese
de Substâncias Bioativas (LASSBio),
da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e que conta
com o apoio do Instituto Virtual de Fármacos do Rio
de Janeiro/Faperj.
Na
primeira palestra, do dia 13, o Dr. Campbell contou
como foi a descoberta do fármaco que hoje rende a
Pfizer cerca de U$ 6 bilhões ao ano. Segundo
ele, o Viagra® foi descoberto por acaso.
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"Nossa
intenção inicial era desenvolver um fármaco
para combater doenças cardiovasculares. Sem
que entendêssemos bem o porquê, durante os testes,
observamos que o medicamento começou a estimular
a ereção", contou Simon. |
Ele também explicou que o trabalho de pesquisa levou
cerca de 13 anos, isso considerando os diversos testes
que devem ser feitos para se colocar um novo medicamento
no mercado.
Para Campbell, "a descoberta de novos fármacos
não é um processo mecânico. É preciso muita imaginação
e criatividade. Eu não conheço ninguém que faça descobertas
escrevendo emails o dia inteiro ou falando sem parar
no celular", ensinou.
Já na palestra do dia 14, o Dr. Simon Campbell falou
sobre outra descoberta. Dessa vez ele falou sobre
a Amlodipina, o Norvasc®, nome comercial do princípio
ativo. Esse é o quarto medicamento mais vendido no
mundo e o mais indicado para o tratamento de hipertensão
e angina, rendendo para a Pfizer, laboratório
que o patenteou, algo em torno de 10 bilhões de reais
por ano.
Revolucionando o mercado, o fármaco age como um bloqueador
de canais de cálcio, causa a dilatação das artérias,
aumentando o fluxo sangüíneo para o coração, combatendo
os problemas cardíacos com uma duração espetacular
de 24 horas. O processo de desenvolvimento do Norvasc®
deu-se por meio da descoberta de um medicamento de
referência que foi patenteado pelo laboratório inglês.
No entanto sua comercialização foi permitida somente
nos Estados Unidos dada sua insolubilidade e metabolização
rápida pelo organismo. Por isso o grupo de pesquisadores
decidiu partir à procura de uma forma mais eficaz
do remédio que pudesse ser comercializada em todo
o mundo.
Durante sua apresentação o pesquisador, que já fez
pós-doutorado na Universidade de São Paulo, também
falou sobre fármacos, em geral, na atualidade. Ressaltou
a importância da interação e comunicação entre os
farmacêuticos, biólogos e químicos que compõem os
grupos de pesquisa das indústrias. "Em um mercado
competitivo, onde de 15 mil compostos apenas um chega
às prateleiras depois de 10-20 anos de pesquisa, essas
equipes, de no máximo 30 pessoas, devem estabelecer
parcerias e manterem-se informadas sobre as publicações
e resultados mais recentes para acelerar o desenvolvimento
dos novos princípios ativos".
Simon Campbell discursou sobre o futuro dos remédios
e disse que "acredita na continuação das pequenas
moléculas como principais componentes dos fármacos",
mas citou as proteínas, a terapia genética, as vacinas
e os anticorpos sintéticos como substâncias que preenchem
os requisitos de solubilidade, potência e duração
do efeito para combater as principais doenças.
Por
Edna Ferreira e Matheus Fierro
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