Ataque enzimático contra a malária |
Um grupo de pesquisa internacional, que conta com
participantes brasileiros, está há
anos na busca pelo composto certo para proteger
o ser humano do Plasmodium falciparum, o protozoário
causador da malária. No início, o
número de possíveis candidatos era
superior a 350 mil moléculas diferentes.
Agora, a lista foi reduzida a apenas 30, o que indica
que a solução está próxima.
O inimigo já é conhecido. "A
proteína tioredoxina redutase do parasita
é um alvo molecular validado e selecionado
por nossas pesquisas, que buscam o desenvolvimento
de novos agentes quimioterápicos contra a
doença", explica Adriano Andricopulo,
pesquisador do Centro de Biologia Molecular Estrutural
(CBME) do Instituto de Física de São
Carlos da Universidade de São Paulo, um dos
Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão
(Cepids) da FAPESP.
O grupo do qual faz parte Andricopulo representa
o lado brasileiro na iniciativa. O projeto conta
ainda com pesquisadores da Universidade de Michigan
e da empresa Pfizer, baseados nos Estados Unidos.
As universidades de Heidelberg e Giessen, na Alemanha,
também participam do projeto.
O alvo localizado no protozoário, explica
Andricopulo, é uma proteína que faz
parte do sistema de proteção do parasita
contra as chamadas espécies reativas de oxigênio,
presentes no sistema imune do hospedeiro. A chave
bioquímica do combate é encontrar
algum composto químico que seja capaz de
desligar essa proteção do plasmódio.
Os 30 compostos identificados pelas várias
etapas de pesquisas feitas dentro da área
da química medicinal fazem exatamente essa
inibição.
"Os resultados sugerem que os inibidores descobertos
a partir das coleções padrões
da Pfizer frente à enzima tioredoxina redutase
afetam em paralelo vários pontos vulneráveis
do parasita, danificando o seu sistema de defesa,
causando distúrbios na regulação
de alguns processos físicos-químicos
e interferindo na síntese de DNA", disse
o pesquisador do CBME. Diante de todo esse desarranjo
químico, destruir o inimigo, ou pelo menos
evitar que ele possa atacar o hospedeiro, ficará
bem mais fácil.
Para Andricopulo, o futuro é bastante promissor.
"Esses 30 compostos em estudo passarão,
na próxima etapa, por testes de propriedades
farmacocinéticas e por experiências
em modelos padrões com roedores. Essas moléculas
valiosas, que estão sob sigilo, têm
elevado potencial de representar novas entidades
químicas candidatas a fármacos na
terapia segura e eficaz da malária”,
avalia.
A importância das pesquisas em andamento tanto
no Brasil como no exterior é grande. A Organização
Mundial de Saúde, segundo relatórios
recentes da instituição, admite problemas
futuros com as terapias atuais contra a malária.
"Além da baixa eficácia, existe
uma toxidez muito grande nos fármacos atuais
e os níveis de resistência a essas
drogas são cada vez mais preocupantes",
explica Andricopulo.
A urgência em encontrar um novo tipo de fármaco
é grande. A doença causa a morte de
cerca de 3 milhões de pessoas por ano, a
maior parte crianças com menos de 5 anos
que vivem no continente africano.
Fonte: Agência Fapesp