Novo microbicida é extraído de alga marinha |
O Instituto Oswaldo Cruz (IOC), em parceria com a
Universidade Federal Fluminense (UFF), a Fundação
Ataulpho de Paiva e a Saint George's Medical School,
de Londres, iniciou em fevereiro testes de uma substância
com atividade potencial contra o vírus causador da
Aids. Os estudos são feitos tanto em animais de experimentação
quanto em células e tecidos humanos. O composto poderá
vir a ser a substância ativa de um microbicida com
potencial para prevenir a transmissão do HIV. Extraído
de algas marinhas de origem nacional, o componente
básico, caracterizado como um dolabelano diterpeno,
foi isolado em 2002 por um grupo de químicos da UFF,
os quais comprovaram também a capacidade de inibir
a enzima transcriptase reversa do HIV-1.
A partir dessa descoberta, outra equipe, dessa vez
do Laboratório de Imunologia Clínica do IOC, norteada
pela característica do vírus HIV de se multiplicar
dentro de células-alvo, iniciou estudos para avaliar
a ação do dolabelano diterpeno na inibição da replicação
do vírus da Aids.
De acordo com os pesquisadores, a análise quanto a
replicação do vírus na presença do composto é feita
em células humanas infectadas, nas quais foram acrescentadas
o dolabelano. O que eles verificaram foi que a replicação
era fortemente inibida, entre 90 e 95%.
A realização dos testes de toxicidade animal é uma
fase importante, para saber se haverá alterações renais,
hepáticas e metabólicas. Os pesquisadores esperam
também obter bons resultados nos testes de toxicidade
para tecidos humanos. Serão realizados testes em fragmentos
de tecido humano do cérvix uterino, retirados por
biópsia e mantidos vivos em cultura em laboratório.
Essa técnica, denominada explante, é disponível somente
na Inglaterra. Por isso essa etapa da pesquisa será
realizada no Centro de Testagem de Microbicidas da
Divisão de Doenças Infecciosas do Saint George's Medical
School.
Centro de testes
A colaboração com o centro de pesquisas inglês trará
outros benefícios, uma vez que o projeto inclui a
montagem de um centro de testagem de microbicidas
no Brasil, a partir da transferência de tecnologia,
como a do explante.
Para os pesquisadores brasileiros, um microbicida
genuinamente nacional traria uma economia de recursos
imensa ao país, uma vez que não haveria a necessidade
de pagamento de
royalties às indústrias farmacêuticas
internacionais. Ao lado do avanço científico-tecnológico
que representa, o desenvolvimento de um microbicida
anti-HIV seria mais um componente na estratégia de
proteção contra a Aids - até hoje, desde a descoberta
do vírus, há mais de 20 anos, o único método preventivo
eficaz contra a doença é o uso de preservativo.
A equipe brasileira publicou artigo sobre a inibição
do HIV na revista Planta Medica (volume 72, março
de 2006), veículo oficial da Society for Medicinal
Plant Research editado na Alemanha. O artigo intitulado
Inhibition of HIV-1 replication in human primary
cells by a dolabellane diterpene isolated from the
marine algae dictyota pfaffii, de Cláudio Cirne-Santos
(Fiocruz e UFF), Dumith Chequer Bou-Habib e Luiz Roberto
Castello Branco (Fiocruz) e Valéria Teixeira e Izabel
Frugulhetti (UFF), pode ser lido por assinantes da
Planta Medica em
http://
www.thieme.de/fz/plantamedica.