IVFRJ On Line - 45ª Edição
Ano III - 09 de maio de 2007
Dengue tipo 4: a grande ameaça de zebra nos jogos Pan-Americanos

Por Lucia Beatriz e Matheus Fierro

Faltam apenas dois meses para o início dos jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro e um "atleta" microscópico estrangeiro, já ameaça ser a grande zebra do evento. O vírus da dengue do tipo quatro, presente em alguns países latino-americanos, mas ainda inexistente no Brasil, pode chegar ao nosso país, na ocasião do Pan 2007, inoculado em algum esportista ou turista, provocando uma epidemia grave da doença, caso haja uma intensa presença do mosquito Aedes aegypti.

Mosquito da dengue - Aedes aegypti
- momento da picada -

"A introdução de um novo sorotipo da dengue vai pegar o sistema imune da população desprevenido e isto tende a aumentar muito o impacto de uma epidemia eventual, como aconteceu em 2002, quando houve uma epidemia aguda de dengue devido a entrada do sorotipo três", alerta o professor Pedro Lagerblad Oliveira, coordenador do Instituto Virtual da Dengue do Estado do Rio de Janeiro.

"É importante eliminar todos os focos do mosquito para evitar que haja a transmissão do tipo mais perigoso do vírus", adverte o pesquisador que ressalta também que, nesses casos, é muito difícil impedir a entrada do novo sorotipo, pois geralmente o paciente chega assintomático. "É fundamental que se tenha mecanismos de vigilância epidemiológica para, assim que um paciente estrangeiro chegar a uma unidade de saúde com alguns dos sintomas da dengue, ser realizado, de imediato, um exame para identificar o sorotipo da doença. Todos os esforços são necessários para tentar isolar o tipo quatro", explica Dr. Pedro Lagerblad.

A Secretaria Municipal de Saúde, com o apoio dos grupos de pesquisa em Dengue do Rio de Janeiro, está aprimorando o seu Know-how, por meio de diagnóstico molecular, exame sorológico, entre outras formas de detecção, para que o resultado do teste para os quatro tipos do vírus seja feito com maior eficiência e rapidez.


Vacina contra a Dengue

Ainda não existe nenhuma vacina contra a dengue disponível no mercado. Na Tailândia um modelo tetravalente está sendo testado, a previsão para se ter uma vacina comercial é de quatro a cinco anos. O Brasil tem também alguns grupos trabalhando com vacinas candidatas.

Vírus da dengue em célula infectada

"O que o governo brasileiro não pode fazer é desmobilizar a pesquisa de uma vacina nacional na perspectiva de uma que possa ser comprada. Isso vai fazer o país gastar muito mais e perder a capacidade de negociação de preços", observa o professor Oliveira, que chama a atenção para o fato de ser ainda muito reduzido o volume de capital investido em pesquisa em dengue, em nosso país.

"Atualmente, no Brasil, não temos mais de 2 ou 3 milhões destinados para pesquisa em dengue, o Programa Nacional de Controle da Dengue consome aproximadamente 70% do orçamento da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), o que representa um custo diário de 1 milhão reais", denuncia Dr. Pedro Lagerblad. "É gasto muito dinheiro com a prevenção e controle, enquanto que falta verba e incentivo às pesquisas", desabafa.


Conhecer melhor para produzir novos fármacos

A dengue é uma doença tradicionalmente negligenciada, mas que nos últimos tempos está chamando a atenção devido ao seu crescimento exponencial nos trópicos, se tornando endemia em muitos países. Sabe-se, porém, muito pouco sobre a sua dinâmica de transmissão; aspectos básicos da biologia da doença e do seu vetor ainda são desconhecidos. Os cientistas ainda não chegaram em um consenso, sobre qual, afinal, é o órgão de choque atacado pelo vírus.

"No momento em que se compreender melhor a natureza da resposta desse mecanismo fisio-patológico, vai ser mais fácil pensar em fármacos que sejam eficientes para se manejar a doença, que é de natureza inflamatória", explica o professor Oliveira, que lembra também que a dengue, devido ao seu crescente grau de incidência no planeta, acabou chamando a atenção da Organização Mundial da Saúde (OMS), que pretende começar a financiar pesquisas nesta área.


Ações preventivas para o Pan

O atraso das obras de infra-estrutura do Pan-americano do Rio de Janeiro preocupam o Comitê Olímpico Brasileiro e a população da cidade. Mas uma doença transmitida por um pequeno mosquito também ameaça o sucesso deste evento internacional e aflige as entidades esportivas cariocas. O risco de contrair dengue por causa dos possíveis focos encontrados nas construções em andamento do Pan vem preocupando a população do Rio e os futuros visitantes.

Obras na Vila do Pan

Para garantir uma incidência mínima da doença durante os jogos, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) promove diversas atividades que visam inibir os focos do mosquito Aedes aegypti. Nos dias 25, 26 e 27 de abril, cerca de 1.400 apartamentos da Vila do Pan, na Barra, zona oeste da cidade, foram vistoriados por agentes da Secretaria. Uma ação especial que objetiva evitar que os atletas contraiam a doença, assim como beneficiar a região da Vila, que representa 20% dos casos de dengue do município.

Com a proximidade do evento a Secretaria de Saúde intensificou suas operações, vistoriando as áreas comuns da Vila a cada 15 dias e treinando brigadas antidengue. Estes grupos tem a responsabilidade de identificar e destruir os criadouros do mosquito transmissor. Uma brigada já foi formada e tem a responsabilidade de monitorar as obras. Outras estão em treinamento para identificar a existência do mosquito Aedes aegypti no restante das construções, na rede hoteleira da Zona Sul e da Barra da Tijuca, no Estádio João Havelange, no kartódromo e no autódromo.

Locais dos jogos
 
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A SMS enfatiza a importância da participação popular para o sucesso do combate à dengue. Todos podem contribuir, evitando, dentro de suas casas, situações que possam facilitar a proliferação de focos e incentivando amigos e vizinhos a colaborarem na prevenção. A população pode ligar para o Tele-Dengue, no telefone (21)2575-0007, para mais informações sobre a doença, para pedir a vistoria dos agentes da Secretaria ou denunciar situações de risco.


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