Dengue tipo 4: a grande ameaça de zebra
nos jogos Pan-Americanos |
Por
Lucia Beatriz e Matheus Fierro
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Faltam apenas dois meses para o início dos jogos
Pan-Americanos do Rio de Janeiro e um "atleta" microscópico
estrangeiro, já ameaça ser a grande zebra do evento.
O vírus da dengue do tipo quatro, presente em alguns
países latino-americanos, mas ainda inexistente
no Brasil, pode chegar ao nosso país, na ocasião
do Pan 2007, inoculado em algum esportista ou turista,
provocando uma epidemia grave da doença, caso haja
uma intensa presença do mosquito Aedes aegypti.
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Mosquito da dengue -
Aedes aegypti
- momento da picada -
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"A introdução de um novo sorotipo da dengue vai
pegar o sistema imune da população desprevenido
e isto tende a aumentar muito o impacto de uma epidemia
eventual, como aconteceu em 2002, quando houve uma
epidemia aguda de dengue devido a entrada do sorotipo
três", alerta o professor
Pedro Lagerblad Oliveira,
coordenador do
Instituto Virtual da Dengue
do Estado do Rio de Janeiro.
"É importante eliminar todos os focos do mosquito
para evitar que haja a transmissão do tipo mais
perigoso do vírus", adverte o pesquisador que ressalta
também que, nesses casos, é muito difícil impedir
a entrada do novo sorotipo, pois geralmente o paciente
chega assintomático. "É fundamental que se tenha
mecanismos de vigilância epidemiológica para, assim
que um paciente estrangeiro chegar a uma unidade
de saúde com alguns dos sintomas da dengue, ser
realizado, de imediato, um exame para identificar
o sorotipo da doença. Todos os esforços são necessários
para tentar isolar o tipo quatro", explica Dr. Pedro
Lagerblad.
A
Secretaria Municipal de Saúde,
com o apoio dos grupos de pesquisa em Dengue do
Rio de Janeiro, está aprimorando o seu Know-how,
por meio de diagnóstico molecular, exame sorológico,
entre outras formas de detecção, para que o resultado
do teste para os quatro tipos do vírus seja feito
com maior eficiência e rapidez.
Vacina contra a Dengue
Ainda não existe nenhuma vacina contra a dengue
disponível no mercado. Na Tailândia um modelo tetravalente
está sendo testado, a previsão para se ter uma vacina
comercial é de quatro a cinco anos. O Brasil tem
também alguns grupos trabalhando com vacinas candidatas.
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Vírus da dengue em célula
infectada
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"O que o governo brasileiro não pode fazer é desmobilizar
a pesquisa de uma vacina nacional na perspectiva de
uma que possa ser comprada. Isso vai fazer o país
gastar muito mais e perder a capacidade de negociação
de preços", observa o professor Oliveira, que chama
a atenção para o fato de ser ainda muito reduzido
o volume de capital investido em pesquisa em dengue,
em nosso país.
"Atualmente, no Brasil, não temos mais de 2 ou 3 milhões
destinados para pesquisa em dengue, o Programa Nacional
de Controle da Dengue consome aproximadamente 70%
do orçamento da Secretaria de Vigilância em Saúde
(SVS), o que representa um custo diário de 1 milhão
reais", denuncia Dr. Pedro Lagerblad. "É gasto muito
dinheiro com a prevenção e controle, enquanto que
falta verba e incentivo às pesquisas", desabafa.
Conhecer melhor para produzir novos fármacos
A dengue é uma doença tradicionalmente negligenciada,
mas que nos últimos tempos está chamando a atenção
devido ao seu crescimento exponencial nos trópicos,
se tornando endemia em muitos países. Sabe-se, porém,
muito pouco sobre a sua dinâmica de transmissão; aspectos
básicos da biologia da doença e do seu vetor ainda
são desconhecidos. Os cientistas ainda não chegaram
em um consenso, sobre qual, afinal, é o órgão de choque
atacado pelo vírus.
"No momento em que se compreender melhor a natureza
da resposta desse mecanismo fisio-patológico, vai
ser mais fácil pensar em fármacos que sejam eficientes
para se manejar a doença, que é de natureza inflamatória",
explica o professor Oliveira, que lembra também que
a dengue, devido ao seu crescente grau de incidência
no planeta, acabou chamando a atenção da Organização
Mundial da Saúde (OMS), que pretende começar a financiar
pesquisas nesta área.
Ações preventivas para o Pan
O atraso das obras de infra-estrutura do Pan-americano
do Rio de Janeiro preocupam o Comitê Olímpico Brasileiro
e a população da cidade. Mas uma doença transmitida
por um pequeno mosquito também ameaça o sucesso deste
evento internacional e aflige as entidades esportivas
cariocas. O risco de contrair dengue por causa dos
possíveis focos encontrados nas construções em andamento
do Pan vem preocupando a população do Rio e os futuros
visitantes.
Para garantir uma incidência mínima da doença
durante os jogos, a Secretaria Municipal de Saúde
(SMS) promove diversas atividades que visam inibir
os focos do mosquito Aedes aegypti. Nos dias
25, 26 e 27 de abril, cerca de 1.400 apartamentos
da Vila do Pan, na Barra, zona oeste da cidade,
foram vistoriados por agentes da Secretaria. Uma
ação especial que objetiva evitar que os atletas
contraiam a doença, assim como beneficiar a região
da Vila, que representa 20% dos casos de dengue
do município.
Com a proximidade do evento a Secretaria de Saúde
intensificou suas operações, vistoriando as áreas
comuns da Vila a cada 15 dias e treinando brigadas
antidengue. Estes grupos tem a responsabilidade
de identificar e destruir os criadouros do mosquito
transmissor. Uma brigada já foi formada e tem a
responsabilidade de monitorar as obras. Outras estão
em treinamento para identificar a existência do
mosquito Aedes aegypti no restante das construções,
na rede hoteleira da Zona Sul e da Barra da Tijuca,
no Estádio João Havelange, no kartódromo e no autódromo.
Locais dos jogos |
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A SMS enfatiza a importância da participação popular
para o sucesso do combate à dengue. Todos podem
contribuir, evitando, dentro de suas casas, situações
que possam facilitar a proliferação de focos e incentivando
amigos e vizinhos a colaborarem na prevenção. A
população pode ligar para o Tele-Dengue, no telefone
(21)2575-0007, para mais informações sobre a doença,
para pedir a vistoria dos agentes da Secretaria
ou denunciar situações de risco.