Pesquisadores testam novo medicamento contra
o câncer |
Uma equipe de pesquisadores do Laboratório
de Enzimologia e Controle de Metabolismo da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) acaba de verificar
que o clotrimazol, fármaco usado contra fungos,
pode ter um importante papel na luta contra a doença.
A descoberta ocorreu quando os pesquisadores, por
meio de testes in vitro, buscavam identificar alvos
(como enzimas, por exemplo) no interior de células
tumorais para testar substâncias que possam
ser usadas no combate ao câncer.
Em maio, começam os testes em tecido e os
pesquisadores reconhecem o desafio da nova fase.
“Comprometer uma célula em tecido é
mais difícil, pois uma célula ‘protege’
a outra, diminuindo a eficácia do substância”,
explica Mauro Sola-Penna, líder do estudo.
Além do início da nova etapa, a equipe
trabalha com outra substância que tem se mostrado
ainda mais eficiente que o clotrimazol, chamada
composto 48/80.
Em pesquisa publicada em artigo na revista Molecular
Genetics and Metabolism, Sola-Penna e equipe mostraram
o papel do clotrimazol como antagonista da calmodulina,
uma das proteínas responsáveis pelos
processos de metástase (proliferação
do tumor). A calmodulina faz com que a enzima fosfofrutoquinase,
ao se deslocar no interior da célula, permaneça
ligada a filamentos de actina, fazendo com que a
célula produza grande quantidade de energia,
permitindo que o tumor cresça e gere a metástase.
Uma das diferenças entre célula normal
e tumoral é a distribuição
intracelular das enzimas.
“As enzimas se deslocam no interior das células
e, quando isso é feito livremente, a célula
produz pouca energia. Nesse caso, observamos que
a fosfofrutoquinase se mantém ligada a esses
filamentos, fazendo com que a célula produza
mais energia”, explica Sola-Penna.
Segundo o pesquisador, o alvo passou a ser a enzima.
“Nossa tática era fazer com que ela
se ‘desligasse’ dos filamentos de actina,
atacando com uma substância que fosse antagonista
da calmodulina, uma das responsáveis pela
‘ligação’ da fosfofrutoquinase
com os filamentos”, conta.
Identificado o alvo, o próximo passo foi
avaliar que tipo de fármaco poderia servir
como antagonista do processo. Foi a cientista israelense
Rivka Beitner quem, em 2002, primeiro propôs
que o clotrimazol, usado no tratamento contra fungos
e micoses, pudesse ser empregado também contra
o crescimento tumoral. A equipe brasileira propôs
uma nova ação para uma velha substância.
“Ela é usada comercialmente, o que
nos poupou tempo e dinheiro. Além disso,
sabíamos que ela era uma antagonista da calmodulina”,
diz Sola-Penna.
Com o uso da substância, os pesquisadores
observaram que a fosfofrutoquinase se ‘soltava’
dos filamentos. Com isso, a célula produzia
menos energia e se tornava mais compacta e, por
fim, morria. Nos ensaios em cultura, o nível
verificado de eficácia do clotrimazol, segundo
Sola-Penna, foi de 80%.
Fonte:
Agência Fapesp