Novos fármacos e pesticidas por meio da modelagem
molecular |
Entrevista
Prof. Carlos Sant´Ana - UFRRJ
O professor Carlos Mauricio Rabello de Sant'Anna
é do Departamento de Química da Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro e também professor coloborador
do LASSBio/UFRJ. O trabalho dele na pesquisa e orientação
de alunos está voltado para o uso de métodos de
modelagem molecular para o planejamento e a compreensão
do mecanismo de ação de substâncias bioativas. Na
Rural, o principal interesse do professor Carlos
são as substâncias com ação pesticida (inseticidas,
herbicidas e fungicidas), com ênfase nas questões
da resistência e da melhoria da seletividade na
ação dessas substâncias. Em entrevista ao IVFRJ
On Line, o pesquisador revela mais sobre
suas pesquisas e os resultados promissores.
IVFRJ On Line: Do que trata sua pesquisa?
Carlos Sant'Anna: Realizo pesquisas
em modelagem molecular na área do desenvolvimento
de substâncias antiparasitárias aplicadas a doenças
humanas negligenciadas, em colaboração com a professora
Aurea Echevarria e o grupo das Dras. Leila Mendonça
Lima e Leonor Leon, da Fiocruz. Os mecanismos de
ação de fármacos e pesticidas, embora com objetivos
bem diferentes, guardam muitas semelhanças no nível
molecular, já que quase sempre envolvem a inibição
de enzimas e o agonismo/antagonismo de receptores
celulares. Realizo também colaborações com pesquisadores
que fazem a síntese e a avaliação da atividade biológica
das substâncias candidatas a pesticidas, com os
professores João Batista Neves da Costa e Marco
Edilson Freire de Lima. No LASSBio/UFRJ, coordenado
pelo professor Eliezer Barreiro, colaboro em pesquisas
e orientações no laboratório de modelagem molecular
de fármacos, com enfoque principal na área de antiinflamatórios
e analgésicos, junto com os Drs. Laurent Dardenne
e Nelilma Romeiro.
IVFRJ On Line: Como surgiu a idéia ou interesse
por essa linha de pesquisa?
Carlos Sant'Anna: Meu interesse pela
modelagem molecular começou no meu doutorado, feito
de Instituto de Química da UFRJ sob orientação dos
professores Ricardo Bicca de Alencastro e Eliezer
Barreiro. Logo a seguir, em 1997, ingressei como
professor da Rural, onde, pela própria vocação agrária
da Instituição, acabei me voltando para a pesquisa
com pesticidas. Já desde essa época mantenho uma
colaboração com o LASSBio/UFRJ, atuando nas áreas
de interesse do laboratório.
IVFRJ On Line: As pesquisas contam com algum
apoio?
Carlos Sant'Anna: O laboratório de
modelagem molecular da Rural, mantido em colaboração
com a professora Clarissa Oliveira da Silva, funciona
com recursos da Faperj e do CNPq. Os recursos de
que disponho no momento são do último Edital Universal
do CNPq, no valor de R$ 30.000,00.
IVFRJ On Line: Em que fase se encontra essa pesquisa?
Carlos Sant'Anna: Na Rural já temos
vários compostos novos sintetizados pelos grupos
dos professores João Batista Neves da Costa e Marco
Edilson Freire de Lima com atividade inseticida
comprovada. Alguns desses compostos mostraram-se
inócuos em testes em mamíferos, o que lhes confere
um perfil de seletividade bastante promissor. Na
área dos antiparasitários, já há compostos identificados
com ação contra Leishmania amazonensis, sintetizados
pelo grupo da professoa Aurea Echevarria. As pesquisas
continuam no sentido da busca da melhoria do perfil
de ação dessas substâncias e pretende-se patentear
os compostos mais promissores.
IVFRJ On Line: Que tipo de benefício e ou vantagem
sua pesquisa pode trazer para a sociedade?
Carlos Sant'Anna: O mais importante
para mim é poder aplicar a modelagem em áreas de
interesse social, que são a melhoria na produção
de alimentos e a produção de novos fármacos. No
Brasil, a redução da dependência tecnológica passa
necessariamente pela Universidade, já que a tradição
de pesquisa na indústria é muito pequena. No caso
dos fármacos, é importante, por um lado, permitir
que se formem pessoas capazes de usar as mesmas
técnicas usadas nos países desenvolvidos para o
planejamento de novos fármacos. Por outro lado,
a busca de novas estruturas, em particular em áreas
de pouco interesse comercial para a indústria farmacêutica,
vai trazer benefícios para a saúde da população
mais pobre. Com relação aos alimentos, as pragas
são responsáveis por perdas significativas na produção
e é inevitável o uso de pesticidas na produção em
larga escala, na maior parte pouco seletivos e que
causam problemas ecológicos sérios. O problema é
agravado pelo desenvolvimento de resistência, que
leva a um aumento do uso dos pesticidas, elevando
o custo da produção e os impactos ecológicos. Acho
que é possível reduzir os custos e o impacto no
ambiente através de um planejamento racional dos
pesticidas.
Entrevista
e edição: Edna Ferreira
|