Um possível fim para a migração do câncer |
Pesquisadores
da UERJ identificam substância que diminui a incidência
de metástase
A metástase é a capacidade que as células cancerosas
têm de migrar através do sistema circulatório (sangüíneo
e linfático) para outros tecidos ou órgãos à distância
do tumor primário. Uma equipe de cientistas, sob
a liderança da professora Thereza Christina Barja-Fidalgo,
do laboratório de farmacologia da Universidade Estadual
do Rio de Janeiro (UERJ), vem conseguindo resultados
significativos no combate a esse fenômeno do câncer.
Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100
doenças que têm em comum o crescimento desordenado,
ou seja, maligno de células que invadem tecidos
e órgãos, podendo espalhar-se para outras regiões
do corpo.
Por meio de uma mutação genética, o elemento que
controla o funcionamento da célula, ácido desoxirribonucléico
(DNA), passa a enviar instruções erradas para as
atividades celulares. Essas alterações podem ocorrer
em genes especiais, denominados protooncogenes,
que a princípio são inativos em células normais.
Quando ativados, esses genes, transformam-se em
oncogenes, responsáveis pela malignização, ou cancerização,
das células normais. Essas células modificadas,
chamadas de células cancerosas, têm potencial de
se dividirem rapidamente, tendem a ser agressivas
e incontroláveis, determinando a formação de tumores
(acúmulo de células cancerosas) ou neoplasias malignas.
A proliferação e a sobrevivência da célula cancerosa
depende da sua capacidade de aderir a outras células
e migrar dentro do organismo. Para que isso ocorra,
é necessária uma interação entre as próprias células,
que é feita através de uma proteína chamada integrina.
Esse polipeptídeo envia sinais intracelulares que
alteram o comportamento das células e influenciam
no ciclo e na morte celular. Por isso, essas proteínas
são alvos de pesquisas nacionais e internacionais,
dada a sua importância no diagnóstico de doenças
e na sua capacidade terapêutica.
A pesquisa da equipe de Thereza Christina teve início
há quatro anos com o isolamento de uma desintegrina
do veneno da jararaca. "Um desenvolvimento significante
no estudo das interações via integrinas foi a descoberta
em venenos de serpentes, e posteriormente em mamíferos,
das desintegrinas (DIS). Peptídeos que ligam-se
seletivamente às integrinas, as DIS, podem inibir
várias das suas funções. O nosso grupo vem estudando
o efeito das desintegrinas em células de melanomas
murinos e humanos, vem investigando as conseqüências
da interação das DIS com as integrinas das células
e vem analisando a sinalização intracelular responsável
pela proliferação e sobrevivência celular." disse
a professora da UERJ.
Os cientistas da Universidade Estadual descobriram
que as DIS, ao se ligarem às integrinas, ocupam
estes receptores, impedindo a conexão de outros
ligantes e disparando sinais intracelulares que
modificam o perfil de ativação das células de melanoma,
afetando sua capacidade proliferativa e migratória,
reduzindo as chances de ocorrência de metástase.
É ainda intenção da pesquisa descobrir uma fonte
alternativa para as desintegrinas. "O veneno das
cobras é uma matéria prima muito cara", afirma Thereza.
"Estamos trabalhando em conjunto com outros grupos
da UERJ e da UFRJ para obter fontes mais baratas
de desintegrinas". Alguns grupos nacionais e internacionais
conseguiram produzir, através de síntese bacteriana,
um clone exato de alguns tipos de DIS. No entanto,
o grupo carioca vem utilizando um polipeptídeo de
cadeia mais complexa e não foi beneficiado pelas
pesquisas. "Na maioria das DIS purificadas de veneno,
a seqüência responsável por sua ligação seletiva
à determinada integrina já foi identificada. Contudo,
para a maioria delas, a síntese química de análogos
desses sítios de ligação não apresentou a seletividade
necessária, mostrando uma alta complexidade dessa
estrutura."
O projeto ainda se encontra em primeira fase experimental,
tanto in vitro como in vivo e por isso não há previsão
de registro de patente. A professora é cautelosa
ao falar sobre o futuro da pesquisa para a população.
"Ainda é cedo para especular as vantagens ou desvantagens
do que poderia ser um produto no mercado. No momento,
pensamos nas desintegrinas como excelentes candidatos-protótipo
para o desenvolvimento de novos fármacos que interfiram
nas funções celulares moduladas por proteínas de
adesão. Podendo ainda auxiliar na investigação sobre
o papel das integrinas na modulação da funcionalidade
celular". Apesar disso, ela deixa escapar que um
medicamento só será possível daqui há pelo menos
10 anos.