Eficácia, Efetividade e Eficiência de um fármaco |
François
Noël Professor Titular Chefe do Departamento de Farmacologia
Básica e Clínica
Apesar de poder ser considerados sinônimos pelo
público leigo, estes termos possuem significados
diferentes para os especialistas em Pesquisa clínica.
Cientes de que estas diferenças nem sempre estão
bem assimilados no meio da Farmacologia básica,
estamos reportando aqui definições que esperamos
esclarecedoras. Nota-se que a confusão pode ser
exacerbada pelo fato de uma mesma terminologia ter
significado diferente na pesquisa básica e clínica,
como é o caso do termo "eficácia".
De fato, na pesquisa básica, a "eficácia"
de um fármaco refere-se, freqüentemente, à sua capacidade
máxima de produzir um efeito, ou seja, este termo
é muitas vezes usado como sinônimo de "atividade
intrínseca" (como chamado por Ariëns) ou "efeito
agonístico máximo" (como atualmente recomendado
pela IUPHAR), facilmente medido no platô da curva
"concentração-efeito". Este efeito máximo é melhor
expresso como fração ( ) do efeito produzido pelo
agonista total do mesmo tipo, atuando através dos
mesmos receptores, nas mesmas condições. Um agonista
total tem a
= 1, enquanto um antagonista tem a
= 0. De forma mais restrita, o termo "eficácia
intrínseca" ( E),
introduzido por Furchgott, é atualmente reservado
para representar o estímulo produzido pela interação
de uma molécula do fármaco com um único receptor
(este parâmetro é uma característica do fármaco
para um determinado receptor, não dependendo do
sistema de transdução de sinal presente na célula)1.
Por outro lado, na pesquisa clínica, a eficácia
refere-se à capacidade de um medicamento, na dose
recomendada, em produzir efeitos benéficos em circunstâncias
ideais, como nos ensaios clínicos randomizados2.
A eficácia é então medida pela avaliação dos resultados
clínicos e estatísticos do ensaio clínico. Porém,
os pacientes estudados nestes ensaios controlados
são geralmente jovens, de sexo masculino, brancos,
acometidos por uma única patologia e usando um único
tratamento. A maioria dos pacientes na prática médica
não se encaixem nesta descrição.
Assim sendo, o termo efetividade tem outro
significado, sendo utilizado para medir o efeito
de um medicamento na terapêutica, ou seja
em condições "reais" da população como um todo,
ao contrário do que é avaliado durante os ensaios
clínicos controlados, quando os pacientes envolvidos
foram rigorosamente selecionados2.
Desta forma, a baixa adesão do paciente a um tratamento
(em função de efeitos adversos ou complicações do
esquema terapêutico), pode influenciar sua efetividade,
assim como a presença de co-morbidades ausentes
nos pacientes incluídos nos ensaios clínicos controlados.
A efetividade pode ser avaliada em estudos observacionais,
na prática usual da medicina. - O terceiro termo,
"Eficiência", é utilizado quando se avalia a relação
custo-efetividade de um tratamento para o paciente
ou a sociedade2.
Referências:
1. Neubig, R.R., Spedding, M., Kenakin, T. &
Christopoulos, A. International Union of Pharmacology
Committee on Receptor Nomenclature and Drug Classification.
XXXVIII. Update on Terms and Symbols in Quantitative
Pharmacology. Pharmacol. Rev. 55: 597-606,
2003
2. Marley, J. Efficacy, effectiveness, efficiency.
Aust. Prescr. 23:114-115, 2000.