Pesquisadores da Fiocruz decifram genoma do
bacilo da tuberculose |
Seqüenciamento
de genoma da vacina permitirá melhor combate à doença
Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
e da Fundação Ataulpho de Paiva (FAP) estão trabalhando
no seqüenciamento do genes da tuberculose. O projeto
Genoma do BCG Moreau-RJ fará o seqüenciamento dos
genes da cepa da vacina contra tuberculose aplicada
no Brasil. A iniciativa permitirá a melhoria da
eficácia, diminuição dos efeitos colaterais e ampliação
do controle de qualidade na produção da vacina utilizada
no combate à doença que infecta anualmente cem mil
pessoas no país. Orçado em R$ 500 mil, o projeto
será concluído até março de 2005.
A eficácia da vacina poderá ser ampliada com a reintrodução
de antígenos importantes produzidos por genes que
desapareceram do genoma do BCG Moreau-RJ após anos
de produção. "Depois que tivermos mapeado o genoma
do BCG Moreau, será possível melhorar a vacina através
da engenharia genética, 'ligando' ou 'deletando'
genes de acordo com sua função", explica um dos
coordenadores do projeto, o pesquisador do Instituto
Oswaldo Cruz (IOC) e diretor científico da FAP Luiz
Roberto Castello Branco.
Na produção, será possível criar mecanismos de avaliação
genômica do BCG produzido, que permitirão garantir
a estabilidade genética e a qualidade em diferentes
condições de produção e estocagem. "Teremos certeza
daquilo que está sendo produzido. Além disso, poderemos
aumentar a qualidade da vacina modificando conscientemente
as condições de fabricação", explica um dos coordenadores
do projeto, o pesquisador do IOC Wim Degrave. Segundo
ele, os sistemas de avaliação ficarão prontos em
março de 2005, junto com o seqüenciamento.
O projeto abre caminho também para o desenvolvimento
de vacinas recombinantes com o BCG (Bacilo de Calmette
e Guérin). Esse tipo de vacina é obtido ao se inserir
no BCG os genes que codificam antígenos de outras
enfermidades. Assim, agregando geneticamente ao
BCG trechos de DNA responsáveis pela síntese de
antígenos de doenças como tétano e varicela, aumenta
o poder de proteção da vacina, que poderá conferir
imunidade a várias doenças. Além de ser barata -
custa, em média, U$ 0,15 por dose - a cepa brasileira
tem a vantagem de poder ser aplicada por via oral
e causar poucos efeitos colaterais. "As possibilidades
são grandes, mas isso demanda tempo. Até chegar
ao público, a vacina precisa passar por muitos testes
pré-clínicos e clínicos", pondera Degrave.
Na primeira etapa do trabalho, será feita a construção
da biblioteca genômica. Nessa fase, o DNA do bacilo
será dividido em pedaços menores, que serão inseridos
em plasmídeos (moléculas de DNA) de bactérias e
clonados. Após serem especialmente preparados, os
fragmentos serão seqüenciados e analisados em computadores,
que avaliarão a qualidade e encaixarão as seqüências
na ordem correta, até formar o genoma completo.
Os pesquisadores vão comparar o BCG Moreau-RJ com
outras cepas, como o BCG Pasteur, para identificar
variações no código e na expressão dos genes, o
que permitirá um conhecimento detalhado sobre a
evolução e as características de virulência e de
sobrevida.
Outras características da vacina também serão estudadas.
Através da análise do genoma e de sua expressão,
os cientistas tentarão descobrir porque o BCG confere
imunidade parcial à hanseníase e é eficaz no tratamento
do câncer superficial de bexiga e asma. Além disso,
eles buscarão explicar a atuação da vacina como
imunomodulador, melhorando a resposta do sistema
imunológico.
Fonte:
Assessoria de Imprensa da Fiocruz
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