Auto-medicação: uma epidemia com riscos ocultos |
Especialistas
alertam para os riscos do consumo indiscriminado de
medicamentos
O crescimento do hábito do brasileiro de se auto-medicar
está preocupando médicos, farmacêuticos e autoridades
sanitárias de todo o país. Dados alarmantes revelam
que os medicamentos são a maior causa de intoxicação
humana e que metade daqueles vendidos no Brasil
é usada de forma errada pelos pacientes. Os riscos
desta prática cotidiana, muita das vezes, não é
assumido conscientemente, a propaganda abusiva e
a venda ilegal de medicamentos, sem prescrição médica,
influenciam diretamente no consumo indiscriminado
dos medicamentos.
Para discutir o problema, a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA), apoiada pela Federação
dos Médicos (Fenam) e dos famacêuticos (Fenafar),
realizou seminários em várias cidades sobre a propaganda
e o uso racional dos medicamentos. As propostas
apresentadas nos encontros têm o objetivo de ajudar
a formular um plano de ação nacional regulatório,
componente importante na política de Saúde Pública
brasileira.
Com um jogo de palavras, o Dr. Carlos Santarém,
presidente do Conselho Regional de Farmácia/RJ,
chama a atenção para três terapias perigosas relacionadas
à auto-medicação. A vizinhoterapia, quando
um parente ou amigo indica um remédio que lhe fez
bem; a empurroterapia, que acontece nos balcões
das farmácias, e a propagandoterapia, realizada
pelos veículos de comunicação. "A vizinhoterapia
deve ser combatida com informação e educação; a
empurroterapia, com a presença do profissional
farmacêutico nas farmácias, inibindo a ação de leigos;
e a propagandoterapia, com uma legislação
rigorosa contra as campanhas que estimulam a auto-medicação",
ressalta Dr. Carlos.
Os fatores que levam uma pessoa a administrar medicamentos
sem orientação médica baseia-se nos conhecimentos
individuais sobre o processo de saúde/doença e no
contexto familiar, cultural, social e econômico
em que o doente se encontra. O baixo poder aquisitivo
e a dificuldade do acesso à saúde pública não explica,
por si só, o fenômeno da auto-medicação já que ela
ocorre também nas camadas mais privilegiadas. A
propaganda de "remédios" milagrosos, associada à
venda ilegal de medicamentos sem prescrição médica,
contribui para aumentar os índices de auto-medicação
na população brasileira. O alto preço dos medicamentos
é um fator que também precisa ser considerado, pois,
em muitos casos, para economizar, o consumidor pratica
a auto-medicação no próprio balcão das farmácias,
trocando o seu medicamento receitado por um mais
barato.
Riscos ocultos
Segundo especialistas, tomar medicamentos por
conta própria, indicados por leigos ou apresentados
na televisão, ou mesmo repetir receitas sem o conhecimento
do médico, pode ser fatal gerando conseqüências
graves ao organismo como a intoxicação e as interações
medicamentosas. Estudos da Organização Mundial da
Saúde (OMS) ressaltam ainda para o risco da dependência
e da possibilidade de reações alérgicas e do aparecimento
de fortes efeitos colaterais. Em muitos casos, a
auto-medicação mascara sintomas e contribui para
agravar e proporcionar o aparecimento de outras
doenças.
As intoxicações ocorrem como resultado de doses
excessivas do medicamento ou ainda em situações
especiais, como a incapacidade do organismo metabolizar
e eliminar o fármaco. Estatística realizada pelo
Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas
(SINITOX), referente aos atendimentos feitos, em
2003, na Rede Nacional de Centros de Informação
e Assistência Toxicológica (Renaciat), revelam que
28,2% dos casos de intoxicação humana são causadas
por ingestão indevida de medicamentos.
A auto-medicação é perigosa não só com medicamentos
que necessitam de prescrição médica, como também
nos medicamentos de venda livre. "Medicamentos tomados
em conjunto com outro pode dar interação medicamentosa
extremamente prejudicial à saúde, podendo causar
risco de morte ao indivíduo", alerta Dr. Carlos
Santarém, presidente do Conselho Regional de Farmácia/RJ.
Os medicamentos isentos de prescrição médica, aparentemente
inofensivos, quando ingeridos concomitante com outro
fármaco, pode interferir sobre a ação do outro medicamento
chegando a causar, dependendo do quadro, derrame,
hemorragia, convulsão, hipoglicemia, entre outros
danos ao paciente.
Segue abaixo alguns exemplos de reações adversas
causadas por interações com medicamentos de venda
livre.
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Ácido Acetilsalicílico(AAS) + Insulina:
O AAS pode potencializar a ação da insulina
de baixar os níveis séricos de glicose, levando
a um quadro de hipoglicemia. O mesmo pode ocorrer
quando se faz uso do AAS juntamente com a Clorpropamida;
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Anti-ácidos + Antimicrobianos: Alguns
anti-ácidos podem baixar os níveis sanguíneos
de alguns antimicrobianos como: ampicilina,
ciprofloxacina, cetoconazol, isoniazida, tetraciclina,
dentre outros, podendo levar a uma diminuição
da eficácia dos antimicrobianos; |
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Ácido Acetilsalicílico + Ácido Valpróico:
O uso de AAS juntamente com o ácido valpróico
pode acarretar um aumento da toxicidade do ácido
valpróico, já que a porção livre do ácido valpróico
no sangue pode ser aumentados de 30 a 60% pelo
uso de doses repetidas de AAS; |
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Antiinflamatórios Não-Esteroidais + Ofloxacina:
O uso combinado do antimicrobiano ofloxacina
juntamente com antiinflamatórios não-esteroidais,
como AAS, pode aumentar o risco de estimulação
do sistema nervoso central e de ataques convulsivos;
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Antiinflamatórios Não-Esteroidais + Ciclosporina:
O uso concomitante destes dois medicamentos
pode elevar os níveis de ciclosporina, levando
ao aumento da nefrotoxicidade e dos níveis de
creatinina no organismo. O mesmo pode ocorrer
quando do uso da ciclosporina com metoclorpramida;
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Metoclopramida + Levodopa: Tal associação
pode levar a um aumento da biodisponibilidade
do Levodopa e um aumento de sintomas extrapiramidais,
causando sintomas parecidos com o mal de Parkinson.
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Referência: MICROMEDEX,
2001.
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