Campanha
do CRF-RJ quer transformar farmácia em estabelecimento
de Saúde
O carioca, desde outubro, vem se deparando pelas ruas
da cidade com cartazes em ônibus e no metrô com uma
campanha realizada pelo Conselho Regional de Farmácia/RJ,
com arte instigante, que estimula a pensar e discutir
sobre o momento da compra do medicamento. A metade
da face de uma moeda de 1 real, se combina perfeitamente
com um comprimido sulcado. Ao fundo do medicamento,
a cor branca, do dinheiro, preto. O slogan alerta
para o perigo: "
Farmácia não é um simples comércio.
Sua vida não tem preço", abaixo, "
Fazer
da farmácia estabelecimento de saúde é de interesse
público".
Nos últimos 15 anos foi intenso o debate na sociedade
brasileira acerca dos problemas relacionados aos medicamentos.
No Congresso Nacional se encontra o Projeto de Lei
Substitutivo 4.385, conhecido como Projeto Ivan Valente,
que define a farmácia como estabelecimento de saúde.
Entidades farmacêuticas de todo o país estão reivindicando,
através da campanha, a colocação em pauta do projeto
para a votação, pois acreditam que somente a mudança
na legislação pode deflagrar uma nova etapa nas políticas
de saúde do Brasil.
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"Fazer da farmácia
estabelecimento de saúde é de interesse público"
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As distorções verificadas por práticas comerciais
de farmácias e drogarias podem ser representadas pela
indução ao consumo desnecessário e irracional de medicamentos;
pela atuação de balconistas como prescritores; pela
influência negativa da propaganda de medicamentos,
muitas vezes abusiva e enganosa. O medicamento é um
insumo essencial à vida e pede cuidado em sua dispensação.
O cidadão precisa ser respeitado em seus direitos
fundamentais. À farmácia cabe a responsabilidade de
promover o uso racional dos medicamentos. Fazer da
farmácia um estabelecimento de saúde, portanto, é
urgente e imprescindível. É necessário conscientizar
a população que o mais importante "produto" à disposição
nas prateleiras das farmácias é a saúde.
Em entrevista ao
Boletim IVFRJ On Line, Dr.
Carlos Santarem, presidente do Conselho Regional de
Farmácia/ RJ, discorre sobre alguns pontos importantes
da campanha "Farmácia não é um simples comércio -
sua vida não tem preço", desenvolvida no Rio de Janeiro,
pelo CRF-RJ.
"Farmácia não é um simples comércio"- luta histórica
dos farmacêuticos.
CRF-RJ: Entendemos que a luta para que
a farmácia seja enxergada como um estabelecimento
de saúde, e não como um comércio como outro qualquer,
é histórica e não interessa apenas aos farmacêuticos,
mas ao conjunto da sociedade. No nosso País, hoje
a farmácia é tratada como atividade comercial, sendo
a venda e dispensação de medicamentos, seu controle
sanitário e a responsabilidade do profissional farmacêutico
regulamentada pela Lei 5991 de 1973, que trata do
comércio farmacêutico. A busca pelo lucro é priorizada,
em detrimento dos preceitos éticos e técnicos que
a atividade requer, resultando na indução ao consumo
desnecessário e irracional de medicamentos, e no desrespeito
aos direitos fundamentais dos cidadãos. É preciso
que a legislação brasileira avance na concepção do
que vem a ser a farmácia, ampliando e mudando o conceito
de mero estabelecimento comercial para o de estabelecimento
de saúde.
Como surgiu a idéia de fazer a campanha?
CRF-RJ: Desde 1994, o Congresso discute
a alteração da Lei 5991. Em 1997, tomou forma o hoje
conhecido como Projeto Ivan Valente, pelo qual a farmácia
deixa de ser apenas estabelecimento comercial e passa
a ser definida como um estabelecimento de saúde e
uma unidade de prestação de serviços de interesse
público, articulada com o Sistema Único de Saúde,
destinada a prestar assistência farmacêutica e orientação
sanitária individual e coletiva. O Projeto Ivan Valente
está, desde 2000, aguardando votação pelo plenário
do Congresso.
"Farmácia não é um simples comércio - sua vida
não tem preço".
CRF-RJ: Vale lembrar que o primeiro
a proferir a sentença "A Farmácia não é um simples
comércio" foi o farmacêutico Candido Fontoura da Silveira,
em discurso na ABF, em novembro de 1932, no Rio de
Janeiro. A campanha, com este slogan, foi idealizada
pelo CRF de Santa Catarina. A Diretoria do CRF-RJ,
entendendo que multiplicar esta campanha é responsabilidade
que todos os Conselhos devem assumir, propôs isso
ao Plenário, que aprovou, por unanimidade, a realização
da campanha também no Rio de Janeiro. Além do CRF-RJ,
também a Associação Brasileira de Farmacêuticos (ABF),
a Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar) e
outros Conselhos de Farmácia, como os de São Paulo,
Minas Gerais e Pernambuco, já aderiram à campanha.
Quais os principais objetivos a serem atingidos
pela campanha?
CRF-RJ: A campanha busca a mudança da
base legal que caracteriza a Farmácia como comércio.
Isso é importante para a sociedade porque essa mudança
trará indiscutíveis benefícios individuais e coletivos
à saúde. E também é importante para o farmacêutico,
pois evidenciará o valor e o papel social da profissão
e proporcionará a ampliação de sua atuação. Pretendemos
mobilizar a sociedade, para que exija seu direito
de receber assistência farmacêutica de qualidade,
prestada por profissional ética e tecnicamente capacitado
- o farmacêutico; mobilizar o farmacêutico, valorizando
a profissão, para que exerça plenamente seu papel
social; mobilizar os parlamentares, para que agilizem
a votação do Projeto Ivan Valente.
Uma interpretação para a arte/layout da campanha.
CRF-RJ: A imagem do medicamento associada
à moeda e ao dinheiro simboliza o trato do medicamento
como simples mercadoria. A imagem, além de chamar
a atenção pelo impacto visual, conduz à reflexão sobre
a relação entre medicamento - um insumo essencial
à vida - e o comércio. O direito de uso da arte/layout
foi cedido pelo CRF-SC.
Como seria o funcionamento da Farmácia ideal?
CRF-RJ: A farmácia passa a ser uma unidade
de atenção básica à saúde, ao alcance do indivíduo
e da comunidade onde estiver inserida. Nela, os farmacêuticos
presentes proporcionam orientação segura e acompanhamento
do uso de medicamentos e de outros produtos relacionados
à saúde. Eles também orientam sobre medidas preventivas
a agravos à saúde individual e coletiva, pois conhecem
a população sob seus cuidados e as suas necessidades.
O estabelecimento é o local onde o farmacêutico exerce
a Farmácia em sua plenitude, com responsabilidade,
à luz da ética, usando os seus conhecimentos para
o benefício da saúde.
Campanhas anteriores realizadas pelo CRF-RJ.
CRF-RJ: A principal campanha realizada
pelo CRF-RJ - pelo Uso Correto dos Medicamentos -
foi lançada em 20 de janeiro, Dia do Farmacêutico,
de 1997, e vem sendo desenvolvida até o presente momento.
Seu objetivo é orientar e alertar a população sobre
os riscos da automedicação, da prática danosa de indicação
de medicamentos por leigos em balcões de farmácias
e drogarias, além de lembrar os cuidados básicos para
a guarda, conservação e utilização dos medicamentos.
A campanha também é realizada em outros estados, por
Conselhos, pela Fenafar, conta com apoio da ABF, de
universidades e órgãos de defesa do consumidor.