Faculdade de Farmácia da UFRJ comemora 60 anos |
Uma
reflexão sobre a história e o futuro do ensino farmacêutico
no Brasil
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Para comemorar os seus 60 anos
de autonomia administrativa, a Faculdade de
Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), de 9 a 11 de abril, |
reuniu antigos diretores, professores,
funcionários, alunos e ex-alunos, no Centro
de Ciências da Saúde, para relembrar sua história. |
O I Simpósio Interno de Ensino, Pesquisa e Extensão
foi organizado especialmente para celebrar a data
e convidou a todos para refletir, em conjunto, sobre
o futuro do ensino farmacêutico no Brasil.
Muita emoção na abertura do
evento, que começou com apresentação do Coral
Meninos de Luz, com crianças da comunidade
Cantagalo Pavão-Pavãozinho, sob a regência da
professora Maria José Chevitarese, da Escola
de Música da UFRJ. |
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O repertório, escolhido ao acaso, se encaixou perfeitamente
com o conteúdo dos discursos que ainda estavam por
vir. "Não quero dinheiro" de Tim Maia representou
os valores éticos dos farmacêuticos, que devem trabalhar
"Sem Compromisso" com a indústria farmacêutica.
A música "Sorte" lembrou que a despeito de todo
o conhecimento científico, o farmacêutico realmente
precisa ter sorte para descobrir uma molécula e
reconhecer os seus princípios ativos.
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Ex- Diretores e Professores
da Faculdade de Farmácia/UFRJ
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Todo o corpo de ex-diretores da Faculdade de Farmácia,
juntamente com o professor João Ferreira da Rocha,
representando todo o quadro de docentes da escola,
e Neide Maria de Mendonça e Orcalino da Silva, simbolizando
os seus ilustres funcionários, receberam uma homenagem
especial, por terem cada um, ajudado a escrever
parte dos 60 anos de história da instituição.
H
O M E N A G E M
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Prof. João Ferreira da
Rocha
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Neide Maria De Mendonça
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Orcalino Da Silva
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História da Faculdade de Farmácia
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Em seu belo discurso, o diretor
da Faculdade de Farmácia, Dr. Carlos Rangel
Rodrigues, fez uma viagem pela história, resgatando
diversas passagens de obras relevantes para
a literatura mundial que refletem sobre o "fazer"
da profissão farmacêutica, desde os primórdios
na pré-história até a atualidade. |
Aproveitou o momento também para refletir sobre
separação histórica das duas profissões: médicos
e farmacêuticos.
"Quando Dom João chegou ao Brasil em 1832, criou
a primeira Faculdade de Farmácia no Rio de Janeiro
associada à Faculdade de Medicina e Cirurgia, foi
o início das ciências médicas no país. A nossa instituição,
então, tem 175 anos de existência. Mas somente em
1947 conseguiu sua autonomia administrativa, consolidando
a formação da farmácia científica no Brasil, por
isso a importância de estarmos hoje comemorando
os seus 60 anos de independência", explica Dr. Rangel.
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Livro de Formatura -
1953
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O presidente do Conselho Regional de Farmácia
(CRF-RJ), Dr. Carlos Santarem, proferiu a conferência
de abertura do evento ressaltando alguns aspectos
da profissão farmacêutica no novo Milênio, como
a necessidade de uma qualificação técnica com aprimoramento
diário, devido as constantes inovações científicas
e uma ética impecável no que diz respeito ao assédio
da indústria farmacêutica.
I Simpósio Interno de Ensino, Pesquisa e Extensão
No dia 10 de abril foi realizada a abertura oficial
do I Simpósio Interno de Ensino, Pesquisa e Extensão
da Faculdade de Farmácia, com café cultural em que
os alunos apresentaram painéis com trabalhos técnico-científicos
nos mais variados temas no âmbito da graduação,
pesquisa e extensão ao som do conjunto de violinistas
da Escola de Música da UFRJ.
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Painel das alunas Márcia,
Lívia e Paula
- Campanha Nacional para uso correto dos
Medicamentos -
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Durante os dois dias de Simpósio, diferentes especialistas
de diversas partes do país participaram de mesas
redondas, onde foram discutidos os principais assuntos
relativos ao ensino de graduação e pós-graduação,
assim como o papel da extensão das ciências farmacêuticas
para a sociedade como um todo.
Panorama do Ensino Farmacêutico no Brasil
Atualmente no Brasil há 274 cursos de graduação
em Farmácia, sendo que quase 50% destes não são
reconhecidos pelo Ministério da Educação e Cultura
(MEC). "Em 2001, talvez devido a uma legislação
mais rigorosa, que exige a presença do farmacêutico
nos estabelecimentos comerciais, houve um crescimento
exponencial dos cursos de Farmácia no Brasil, principalmente
os privados", aponta Dra. Magali Demoner Bermond,
da Comissão de Ensino, do Conselho Federal de Farmácia
(CFF).
"Infelizmente o crescimento não se distribuiu pelo
território", lamenta a professora Selma Rodrigues
de Castilho, da Universidade Federal Fluminense
(UFF). "Este fato acabou provocando uma saturação
do mercado de trabalho nas regiões Sul e Sudeste,
de onde vêm quase 80% dos graduandos no Brasil",
completa.
Do total de cursos disponíveis no país, 83% são
privados e somente 17% públicos. "Diante destes
dados é necessário uma reflexão para o MEC, será
que ainda há sentido abrir novos cursos de Farmácia
na região Sul e Sudeste, principalmente particulares,
que não tem comprometimento com a pesquisa e extensão?",
questiona Dra. Selma que já fez parte do grupo de
especialistas da área de Farmácia do Ministério
da Educação.
Reforma Curricular
Segundo pesquisa da Comissão de Ensino do Conselho
Federal de Farmácia (CFF), 75% cursos de Farmácia
no país já implantaram o novo currículo, 16% estão
com o antigo simultâneo ao novo e 9% ainda não passaram
pela reforma curricular, destes estão incluídos
6 Universidades Federais.
"Não é por descaso, é que nas Universidades Federais
os processos burocráticos para a mudança curricular
são mais densos que nas particulares, são muitos
formulários que precisam ser preenchidos e aprovados
na congregação e nos conselhos de todos os centros
em que há disciplina vinculada ao curso de Farmácia",
explica o professor Jorge Fernando Teixeira Soares,
coordenador de Integração Acadêmica de Graduação
do Centro de Ciências da Saúde/UFRJ.
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Mesa Redonda de Ensino
de Graduação
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Em julho deste ano, a coordenação de graduação
da Faculdade de Farmácia da UFRJ promete introduzir
o novo currículo, mantendo na grade a possibilidade
do aluno se especializar nas três antigas habilitações,
totalizando 5.285 horas, incluindo o estágio curricular.
"As universidades privadas estão reduzindo a carga
horária; em algumas chega a ser bem próxima a de
um curso de técnico em Farmácia", denuncia Dra Magali
Demoner, revelando que a carga horária ideal é de
4.500 horas e que, em algumas particulares, chegam
a ser oferecidas apenas de 2.800 a 3.500 horas de
ensino.
Entre outros assuntos abordados durante a mesa redonda
de ensino de graduação ficou clara a necessidade
de se investir na formação e capacitação dos docentes.
Diante da recente reforma curricular dos cursos
de Farmácia, em muitas unidades, os professores
estão sendo obrigados a ministrar aulas sobre assuntos
dos quais têm pouca experiência. Outro ponto também
bastante debatido foi a importância de se assegurar
estágios para as diversas áreas hoje contempladas
no novo currículo.
Pós-Graduação
"A formação de recursos humanos na área é insuficiente
para atender a enorme demanda de docentes", foi
o que concluiu o professor Antônio Jorge Ribeiro
da Silva, coordenador de Integração Acadêmica de
Pós-Graduação do Centro de Ciências da Saúde/UFRJ.
"Estão faltando doutores" foi o que também alertou
o professor Humberto Gomez Ferraz, vice-coordenador
do Programa de Pós-Graduação em Fármaco e Medicamentos,
da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, da Universidade
de São Paulo (USP).
Segundo Humberto Gomez, a Indústria Farmacêutica
brasileira está começando a montar centros de pesquisa
e recrutando profissionais qualificados para trabalhar
e não está encontrando, pois todos estão nos centros
de pesquisa das universidades. "A maior demanda
de doutores está nas universidades particulares,
e estes, infelizmente, deixam de fazer as pesquisas
para as quais foram preparados, pois a instituição
privada não preza por esta área do conhecimento",
explica.
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Mesa Redonda de Ensino
de Pós-Graduação
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Nos debates ficou claro que são poucas as pós-graduações
em Ciências Farmacêuticas na área Industrial no
Brasil. "É necessário ter doutores para conseguirmos
desenvolvimento científico e tecnológico, ainda
somos um mercado totalmente dominado pela tecnologia
externa", explica o professor Antônio Jorge que
acredita ainda ser essencial que o governo inclua
em seus planos de crescimento a associação entre
pesquisa e indústria para que tenhamos novos mercados
para absorção do pessoal.
A discussão sobre a política dos índices de publicações
científicas adotada pela Capes também foi intensa.
"Os índices estão nos controlando, mas isso é um
mal necessário, obriga o pesquisador a sair do enclausuramento
dos laboratórios e atualmente não há outra forma
de se fazer isto. Os cientistas precisam divulgar
seus resultados", reflete o professor Humberto Gomez.
Extensão no ensino farmacêutico
Na mesa redonda de extensão universitária foi discutido
o papel da atividade extensionista no ensino farmacêutico.
Além do relato das atividades de extensão realizadas
nas Farmácias Escola, tanto da Universidade Federal
Fluminense (UFF), como da Federal Rio de Janeiro
(UFRJ), também foi apresentado o Programa Internato
Extensionista, uma iniciativa criada há 30 anos
pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
e que foi trazida à UFRJ pelo curso de enfermagem.
No projeto, uma equipe multidisciplinar de alunos
da área de saúde (enfermagem, medicina, nutrição
e farmácia) saem das salas de aula e vão passar
a semana em municípios carentes, exercendo suas
atividades como uma forma de estágio curricular.
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Palestra Prof. Ana Claudia
Macedo sobre Extensão
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"Como na Faculdade de Farmácia a carga horária
das aulas é muito intensa estamos prevendo o internato
extensionista para as férias de janeiro e julho;
isto já está incluído na nova reforma curricular",
informa a professora Maria Isabel Sampaio dos Santos,
coordenadora de graduação da Faculdade de Farmácia
da UFRJ.
Balanço do evento
Na cerimônia de enceramento das Comemorações dos
60 anos da Faculdade de Farmácia da UFRJ e do I
Simpósio Interno de Ensino, Pesquisa e Extensão,
o diretor Carlos Rodrigues Rangel fez algumas promessas
para 2007 como o projeto de expansão da Farmácia
Universitária, o projeto de levar a Faculdade de
Farmácia para Macaé, promovendo assim um processo
de interiorização da Universidade e a publicação
de um livro contando a história dos 60 anos da instituição.
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CERIMÔNIA DE ENCERRAMENTO
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"Com uma média total de público em torno de 330
participantes e 110 trabalhos científicos apresentados,
o evento ultrapassou muito as nossas expectativas",
comenta entusiasmada a professora Gisela Maria Dellamora
Ortiz, presidente da Comissão Organizadora do evento,
que, coincidentemente, foi formada só por mulheres.